Revolução cultural e a economia da classe trabalhadora

Ao mesmo tempo em que a cultura e a educação podem contribuir para o processo de emancipação da consciência humana, podem também estar à serviço da opressão e da injustiça,

Constitui-se um elemento falso credenciar a educação e a cultura como instrumentos de transformação social. É muito comum expressões do tipo a “educação transforma um país”  ou ainda “a cultura  faz revolução”; os freirianos mais cautelosos  irão dizer “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. As bases dessas concepções desconsideram as condições objetivas concretas para o processo de ruptura social e elegem as ideias (crenças, desejos, idealismo) como único e exclusivo motor para as mudanças estruturais da sociedade.

A educação e a cultura estão refém da disputa do poder político e das lutas de classes. O que nos alerta para o teor ideológico e contraditório. Ao mesmo tempo em que a cultura e a educação podem contribuir para o processo de emancipação da consciência humana, podem também estar à serviço da opressão e da injustiça.

A educação e a cultura não só reproduzem os interesses da classe dominante, a partir dos seus aparelhos ideológicos, mas reverberam também a subversão contra o sistema de opressão e exploração. Neste aspecto,  tanto a cultura como a educação são parte da luta política alinhada aos interesses  da classe trabalhadora  e devem ser reconhecidas dentro do campo da disputa pela hegemonia política.

É preciso refletir sobre o significado de “revolução cultural” no modo de produção capitalista, a partir da seguinte abordagem:  a desigualdade econômica e a desintegração cultural de uma país são partes da mesma discussão.  O que nos coloca diante da necessidade de defesa e de entendimento que a revolução cultural não se compõe  unicamente da educação e da cultura, mas da elevação da materialidade da cultura, em outras palavras do entrelaçamento com a economia e a democratização ( produção,  consumo, fruição e circulação) da produção cultural da humanidade ( do passado e do presente), o que  diz respeito desde  apropriação da história como o acesso as inovações tecnológicas e aos deslocamentos territoriais.   

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O enfretamento dos problemas econômicos e a melhoria da qualidade de vida social e econômica da classe trabalhadora são parte do alicerce para impulsionar a chamada revolução cultural. A apropriação da economia pela classe trabalhadora gera novas relações sociais, consequentemente novas formas de apropriação da cultura.

Porém, não basta elevar o nível de consumo da classe trabalhadora, mas adentrar na disputa pela hegemonia cultural e política. Se existe uma cultura e ideologia da classe dominante, essas representam os interesses de manutenção social, política e econômica da classe dominante. O que exige uma contraposição pela classe trabalhadora.

A elevação das condições materiais da classe trabalhadora deve estar sintonizada com afirmação de valores emancipatórios como a solidariedade, igualdade, partilha, coletividade e defesa da vida humana. O que representa uma oposição aos valores disseminados pelas elites econômicas dominantes: competição, individualismo, segregação e exclusão.     

A revolução cultural, alinhada à economia, deve reconhecer o lugar da transversalidade e centralidade da cultura, educação e da comunicação como elevadores da consciência política e de classe, no caminho para a tomada de poder político pelo proletariado.

A revolução cultural para classe trabalhadora não se dará cantando para Faraós.

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