São Paulo Carinhosa
Uma das fases mais importantes da vida é sem dúvidas a infância. É neste período de formação da personalidade que os primeiros conceitos e valores serão adquiridos. Alguns momentos deste tempo são inesquecíveis: a primeira professora, as matérias mais agradáveis e os amigos também. Marcas que nos acompanharão para sempre.
Publicado 20/10/2015 18:07
Voltar ao local onde passei os primeiros quatro anos escolares, lá em São Mateus, periferia do extremo leste da cidade, foi marcante demais. Haviam se passado mais 40 anos e o olhar daquelas crianças de seis, sete, oito anos de idade pareciam os mesmos do final dos anos de 1960, quando discutir igualdade racial era proibido e, nem mesmo o mais otimista dos meus amigos de sala de aula sonharia que dali sairia alguém que representaria o município na defesa da igualdade racial, eu.
Na tarde do mesmo dia em uma audiência do São Paulo Carinhosa, programa da prefeitura direcionado às crianças da cidade, o tema da igualdade veio novamente à tona. Ao ser indagado sobre como enfrentar o problema da discriminação no ambiente escolar respondi: autoestima. A experiência daquela manhã, ou melhor, os olhares daquelas crianças, em sua maioria negras, em minha direção, revelariam que os referenciais positivos seriam as melhores estratégias de combater o racismo na escola. Em uma realidade em que pouco ou nada se tem de referenciais negros de forma valorosa, a discriminação racial no ambiente escolar aparece como extensão desta sociedade.
Encerrei a semana na Sétima Edição do Prêmio Educar para Igualdade Racial. A iniciativa foi do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, que premia as melhores práticas em salas de aulas no campo da igualdade racial e de gênero. Existe um longo caminho para alcançar a igualdade racial de forma estrutural no Brasil, por isso, direcionar a atenção para aqueles que ainda estão em formação é um passo decisivo para mudar as mentalidades. E como diz o ditado: “cortando o mal pela raiz”.