São Paulo Carinhosa

Uma das fases mais importantes da vida é sem dúvidas a infância. É neste período de formação da personalidade que os primeiros conceitos e valores serão adquiridos. Alguns momentos deste tempo são inesquecíveis: a primeira professora, as matérias mais agradáveis e os amigos também. Marcas que nos acompanharão para sempre.

Voltar ao local onde passei os primeiros quatro anos escolares, lá em São Mateus, periferia do extremo leste da cidade, foi marcante demais. Haviam se passado mais 40 anos e o olhar daquelas crianças de seis, sete, oito anos de idade pareciam os mesmos do final dos anos de 1960, quando discutir igualdade racial era proibido e, nem mesmo o mais otimista dos meus amigos de sala de aula sonharia que dali sairia alguém que representaria o município na defesa da igualdade racial, eu.

Na tarde do mesmo dia em uma audiência do São Paulo Carinhosa, programa da prefeitura direcionado às crianças da cidade, o tema da igualdade veio novamente à tona. Ao ser indagado sobre como enfrentar o problema da discriminação no ambiente escolar respondi: autoestima. A experiência daquela manhã, ou melhor, os olhares daquelas crianças, em sua maioria negras, em minha direção, revelariam que os referenciais positivos seriam as melhores estratégias de combater o racismo na escola. Em uma realidade em que pouco ou nada se tem de referenciais negros de forma valorosa, a discriminação racial no ambiente escolar aparece como extensão desta sociedade.

Encerrei a semana na Sétima Edição do Prêmio Educar para Igualdade Racial. A iniciativa foi do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, que premia as melhores práticas em salas de aulas no campo da igualdade racial e de gênero. Existe um longo caminho para alcançar a igualdade racial de forma estrutural no Brasil, por isso, direcionar a atenção para aqueles que ainda estão em formação é um passo decisivo para mudar as mentalidades. E como diz o ditado: “cortando o mal pela raiz”.

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