Sargento Agrário: visão estratégica

As dimensões da Amazônia brasileira estão disponíveis em qualquer livro de geografia e em milhares de páginas da internet. Deveria ser algo conhecido e compreendido por todos.

Lamentavelmente não é. Uma boa parcela de brasileiros até conhece teoricamente essas informações, mas não consegue compreende-las e nem tirar conseqüências práticas desse mundo a parte. A ignorância é verbalizada tanto quando se faz atos e regras idênticas para todo o país – sem compreender a impossibilidade de aplicá-las na Amazônia – como quando se questiona, por exemplo, porque os gestores públicos e as organizações sociais da região reivindicam barcos e não carros para transporte e escoamento da produção.


 


Outro exemplo dessa ignorância aconteceu recentemente. Um órgão ministerial de Brasília vetou a participação de uma servidora pública numa conferencia nacional porque o deslocamento dela do alto Solimões, no Amazonas, até um estado do nordeste era mais caro do que uma passagem para a Europa. Foi demais para o burocrata. Ele simplesmente considerou uma fraude, sem procurar levantar as distâncias e os custos de logística nessa imensidão de selva.


 


Por conhecer essa realidade a Petrobras adotava a política de equalização de preços, o que assegurava que um litro de combustível em Manaus (onde há refinaria) ou na mais longínqua fronteira fosse rigorosamente o mesmo preço. O servilismo dos gestores adeptos da política neoliberal pôs fim a essa política de subvenção e hoje essas populações da “borda” da Amazônia pagam o preço real, o que faz com que um litro de combustível nessas áreas seja mais do que o dobro de Manaus. Isso sem mencionar a dificuldade física de transporte, na medida em que alguns rios ficam com a navegabilidade comprometida numa boa parte do ano.


 


Dessa forma, do ponto de vista estratégico, é um risco depender do abastecimento de Manaus, tanto no que diz respeito à energia quanto ao suprimento de alimentos.
Assim, o governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror) está desenvolvendo uma política que visa equacionar esses dois gargalos a partir da própria localidade. O fornecimento de energia seria assegurado a partir do plantio de dendê, numa proporção de 100 hectares para cada grupo de 150 famílias. E o alimento seria produzido em módulos poli cultivares (05 hectares de culturas alimentares e 05 de culturas perenes) assegurando a produção de tudo o que é essencial na própria região.


 


Numa parceria com o Exército brasileiro, especificamente a 12ª Região Militar da Amazônia, sob o então comando do General Avena, estamos tendo a oportunidade de iniciar um módulo piloto de produção de alimentos em pelotões isolados. O exército contratou 13 técnicos agrícolas (homens e mulheres), incorporou a tropa como Sargentos – batizados de “Sargento Agrário” – e os despachou para esses pelotões, após o treinamento técnico realizado pelos nossos técnicos do IDAM (Emater), já devidamente apetrechados com os insumos fornecidos pela Sepror. Nos pelotões eles produzirão alimentos para a tropa e incentivarão as populações locais a produzirem. O eventual excedente de produtos será absorvido e comercializado pela nossa agência de comercialização (ADS).


 


É uma experiência simples, inédita na Amazônia, e de elevado alcance. Esperamos em breve iniciar a etapa do fornecimento de energia a partir da produção local e vê-la replicada, não apenas em áreas militares, mas em todas as regiões isoladas da Amazônia e do país. A isso efetivamente se pode chamar de desenvolvimento sustentável.

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