Seca Pimenteira

Dor-de-cotovelo é mesmo terrível. Faço tal afirmação com a experiência própria de ver meu time quase caindo para a segunda divisão do campeonato brasileiro enquanto nosso arqui-rival, o Cruzeiro, luta pelo título no alto da tabela. É terrível a dor causada pela inveja.

Mas na política esse sentimento de despeito pelo adversário é bem pior; ainda mais se acomete sintomaticamente nada menos que um ex-presidente da República. Chega a dar pena ver o pesar com que Fernando Henrique Cardoso julga o governo de seu sucessor que, ao contrário do seu, é vitaminado pelo apoio popular.

A última demonstração desta amargura pode ser sentida na entrevista concedida por FHC ao jornal O Estado de S. Paulo, publicado no dia 19 de setembro, com o sugestivo título: “Acabar com desigualdade não é tudo”. Será que nosso sociólogo esperava que Lula fizesse “tudo” em apenas dois governos? Ou ainda, diminuir as desigualdades por si só já não seria uma enorme conquista? Puro ciúme.

O Seca Pimenteira começa sua entrevista falando de “maus exemplos no comportamento político” que não “são um bom manto para a democracia”. Além de pedir aos brasileiros que esquecêssemos o que ele escreveu agora quer também que esqueçamos o que ele fez? Sinto muito, mas é impossível olvidar episódios tais como o escândalo do Sivam, o apoio ao terceiro mandato consecutivo do ditador Alberto Fujimori, a farra do Proer, a compra de voto para a emenda da reeleição, as privatarias, os grampos telefônicos durante a privatização do sistema Telebrás, os ralos do DNER, o caso Marka/FonteCindam, o acordo da Base de Alcântara, o rombo transamazônico na Sudam, os desvios na Sudene, o calote no Fundef, os abusos nas medidas provisórias, os acidentes na Petrobras, os computadores do Fust, as “arapongagens”, o esquema do FAT, o apagão, as mudanças na CLT, a explosão da dívida pública, a intervenção na Previ, a sangria do BNDES, etc, etc. E tem a cara-de-pau de colocar o caso Erenice em pé de igualdade com as suas presepadas. Ora, façam-nos um favor e mire-se no espelho antes.

Ao fazer uma análise política conjuntural, o sociólogo deveria minimamente se firmar na metodologia científica na análise dos fatos, mesmo que para favorecer sua hipótese. Nem isso ele faz. Parece uma metralhadora giratória que atira ao esmo, sem dados ou fatos comprovados. Ilações, deduções, inferências, induções, especulações…

Fernando Henrique não consegue dissimular sua invídia ao dizer que “não se pode, por exemplo, ver o presidente, todos os dias, jogar o seu peso político na campanha eleitoral”. Deve mesmo ser muito depressivo ver a figura de seu oponente político ser cobiçada por todos os candidatos (até Serra a reivindicou) enquanto ele próprio é repulsado por quem tem alguma pretensão em ser eleito. FHC sabe que é detestado pelos brasileiros.

E o que lhe resta? Falar para as paredes ou para suas noivas insepultas que lhe dão voz nos tablóides fenecidos de norte político.

Mas mesmo com todo esse olho-gordo é possível afirmar que está mais fácil o Galo sair da degola do Brasileirão 2010 que seu pupilo José Serra ir para o segundo turno das eleições presidenciais. Cada um tem o padrinho que merece.

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