Síria abre embaixada no Líbano

Embora a mídia dita “grande”, chame o presidente da Síria, Dr. Bachar El Assad, de “ditador”, tal qual faz com Fidel e demais presidentes com os quais não tem afinidade alguma, a notícia que apareceu discretamente em alguns veículos de comunicação é a rea

Uma relação tumultuada


 


 


Já comentamos neste espaço que as fronteiras geográficas no mundo árabe são criações recentes. Diferentes dos países europeus, que estabeleceram relações de fronteiras há centenas de anos – ainda que alguns a menos de duzentos anos – no Oriente Médio, a maioria dos países teve definidas as suas fronteiras a partir de dois momentos no século XX. O primeiro deles após o fim do Império Otomano, depois do final da I Guerra Mundial, em 1918 e mais particularmente após o final da II Guerra e com a independência de vários países, com o fim da colonização inglesa e francesa da região. No caso do Líbano em particular, era uma região que, sob o Império Otomano chamava-se de Província de Damasco (hoje capital da Síria).


 


 


Muitas dessas fronteiras são meros riscos no deserto, coisas artificiais, muitas vezes traçados sob interesses das potências imperialistas. Um dos casos mais famosos é o Estado do Kuwait, cuja criação deu-se com o desmembramento de uma rica e imensa região que sempre pertenceu ao Iraque, desde o antigo Império Babilônico há mais de dois mil anos. Tal região, rica em petróleo, fez inclusive que o Iraque perdesse quase toda a sua saída para o mar, para o Golfo Pérsico-Arábico. Isso foi um dos motivos da guerra contra o Iraque, desde que Saddam reocupou o Kuwait em agosto de 1990, sob a alegação de que esse país na verdade lhes pertencia.


 


 


No caso da Síria e do Líbano, sempre existiu muita unidade e esses dois países hoje viveram quase que unificados boa parte de sua existência no século XX. Mesmo com a independência do Líbano após o fim da colonização francesa, a Síria sempre manteve imensa influência no Líbano, considerado mais do que país irmão, considerado como que parte de um só país, que poderia incluir a Palestina e a Jordânia. Era o sonho dos nacionalistas e patriotas que incluíam o Egito inclusive.


 


 


A Síria acabou por decidir a sua intervenção militar no Líbano desde que este país entrou em uma guerra civil em 1975, durando até 1990, por 15 anos. A intervenção militar síria deu-se em 1976. Essa presença militar de soldados sírios perdurou até 2005, quando foi assassinado o ex-primeiro Ministro do Líbano, Hafic Hariri, morto em fevereiro desse ano. Isso forçou a retirada das tropas sírias.


 


 


É bem verdade que o decreto assinado pelo presidente Bachar, filho do ex-presidente sírio Hafez El Assad, foi assinado sob certa pressão americana. Mas, se aposta que isso é parte de um processo que visa distensionar as relações políticas na região e que tem por finalidade os acordos de paz, inclusive com Israel, visando à devolução das colinas de Golã à Síria. Esse é um dos problemas que ficará para a nova primeira Ministra israelense, Tzipi Livni, que neste momento tenta formar o novo governo (ela tem 42 dias para isso, que esta para ser concluído). Há sinais de que Israel vai ceder. Mas, para isso tem que desmantelar suas colônias de israelenses dessa estratégica região.


 


 


Todos aguardam o desfecho das eleições americanas, do mês que vem. Ao que tudo indica – só uma hecatombe para mudar em meu modesto ponto de vista – Barak Hussein Obama deve vencer as eleições, inclusive por larga margem. Existem sinais, ainda que alguns deles ambíguos de que os acordos de paz devem mesmo ocorrer, com o reconhecimento do Estado Nacional Palestino, com fronteiras próximas às de 1967, com Jerusalém como capital desse Estado (pelo menos na sua parte árabe, oriental) e com certas concessões de retorno de refugiados.


 


 


Assim, a minha opinião é que esse gesto que Assad agora pratica, é um claro sinal de novos tempos que vivemos, de reafirmação da política de boa vizinhança, de convivência pacífica e, mais do que isso, que a correlação de forças vem virando a nosso favor, para o lado dos que lutam por um mundo melhor, mais justo, com o reconhecimento da luta palestina, pelos direitos dos sírios e dos libaneses e que os árabes tenham em suas mãos os seus próprios destinos.

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