A grande sombra nazifascista: sobreviverá o “olavismo” sem Olavo?

Diferente dos nazifascistas que morreram no e por causa do poder, Olavo de Carvalho, morreu num quase ostracismo

Bolsonaro e seu guru Olavo de Carvalho l Foto: Alan Santos/PR

O primeiro grande nome do reacionarismo ideológico do século XX a tombar foi Benito Mussolini, o bufão fascista que transformou a Itália num circo de horrores e que fez o país mergulhar numa guerra em que mostrou a fraqueza bélica do seu exército. Mussolini foi derrubado e preso em 25/07/1943 e “resgatado” por tropas especiais nazistas em 12/09 e transformou-se num fantasma e um simples testa de ferro de Hitler, estabelecendo, no norte da Itália uma efêmera República Social Italiana, até que em 27/04/1945 foi preso por guerrilheiros comunistas e fuzilado no dia seguinte, tendo sido seu corpo exposto de forma deprimente nas ruas de Milão.

O segundo grande nome foi o do mais perigoso, Adolf Hitler, homem que conseguiu alçar ao mais alto grau da política alemã das ruínas da Primeira Guerra e da “paz vingativa” de Versalhes. Seu “Reich de Mil Anos” terminou num monumental banho de sangue que varreu o mundo e foi encerrado em 30/04/1945, apenas dois depois do fuzilamento de Mussolini, dentro de uma cova rasa e com seu corpo carbonizado. Das ruínas do nazismo alemão e do fascismo italiano, ergueu-se uma “nova ordem mundial”, liderada pelos EUA.

Na Europa houve um pequeno número de fascistas que chegaram ao poder, mas dois sobreviveram a Guerra e ficaram no poder por muito mais tempo que Hitler e Mussolini. Antonio de Oliveira Salazar, que chefiou um governo fascista, ancorado na Igreja Católica, de 05/07/1932 a 27/07/1968, ou seja, por mais de 36 anos, sendo que o “salazarismo” sobreviveu à morte do “criador”, ocorrida em 27/07/1970, só caindo com a Revolução dos Cravos, em 25/04/1974 e o seu fantasma ainda vaga pelas ruas de Lisboa, Porto.

Outro fascista que, diferente de Hitler e Mussolini, morreu em berço esplêndido, tal qual Salazar, foi o de Francisco Franco, vencendo da sangrenta guerra civil espanhola (1936-39) e que transformou seu país num imenso “castelo fascista”, sempre sob as bençãos da Igreja Católica e governou com mão de ferro a Espanha até praticamente estar no caixão, morrendo em 20/11/1975.

Ditador Francisco Franco no caixão no qual foi enterrado I Foto: Reprodução

Essas quatro figuras sombrias geraram muitos “seguidores” mundo afora e só para nos restringirmos às Américas, tivemos os governos despóticos de Rafael Trujillo, na pequena República Dominicana, que governou o país por 30 anos (1930-1961), até ser assassinado, a mando da CIA, em 30/05/1961.

Não acho que a ditadura dos Duvalier, no Haiti; Stroessner, no Paraguai; da “Mano Blanca”, na Guatemala; e dos Somoza, na Nicarágua, possam ser caracterizadas como fascistas, mas certamente a Ditadura de Pinochet, no Chile, e a “era Fujimori”, no Peru, tem muitos contornos fascistas.

O que chama a atenção é o “pinochetismo” e o “fujimorismo” estão presentes nas sociedades chilena e peruana e o governo de El Salvador, Nayb Bukele, tem sido acusado de ter fortes traços fascistas, ou seja, essas vertentes do nazifascismo sobreviveram a todas as mudanças que ocorreram na humanidade nos últimos sessenta anos e proliferam como ervas daninhas.

No BraZil, o bolsonarismo tem o seu guru e este morreu ontem, em 24/01/2022. Olavo de Carvalho, ser humano desprezível, mentiroso contumaz e fervoroso adepto do que existe mais reacionário no mundo, morreu. Não morreu em berço esplêndido, no auge do poder, como Salazar e Franco, nem teve o mesmo destino de Mussolini, pendurado e com o rosto destroçado ou Hitler, carbonizado. Morreu prostrado, numa cama, da peste que ele mesmo dizia ser de pouca importância.

Diferente dos nazifascistas que morreram no e por causa do poder, Olavo de Carvalho, morreu num quase ostracismo, salvo para a chusma que o admira, embora muitos meios de comunicação tenham se ocupado em tratar da morte desse elemento. “Bolsonarismo” e “olavismo” vem da mesma fonte, só se diferenciando pela forma de como deambulam pela sociedade. São pensamentos anti-civilizatórios.

Não sei se o “olavismo” sobreviverá à morte do seu “criador”, mas certamente ele já está introjetado no “bolsonarismo” e deitou raízes na sociedade braZileira.

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