Sócrates, Togo e Vai-Vai

Foi na década de 80 do século passado que eu, palmeirense fanático, nutri uma fugaz simpatia pelo Corinthians. O responsável por isso? Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Doutor Sócrates, Doutor, ou simplesmente "Magrão". Este que era um jogador completo, marcava gols de falta, de cabeça e fora da área com frequência. Dava assistência perfeita para seus companheiros marcarem muitos gols.

Tive a honra de conhecê-lo anos mais tarde e me tornar seu amigo, bom papo, inteligente, alegre e gozador. Coerente em suas posições políticas desde a luta pelas eleições diretas em 1984. Sem papas na língua, dono de uma retórica agressiva com os adversários e afável com os amigos, me fez vibrar em jogo do time do Parque São Jorge contra o Tiradentes do Piauí com 10 a zero e jogadas fantásticas, um belo passe para o Wladimir fazer um antológico gol de "bike" como dizem na periferia paulista.

Por esta razão, lamento ter que discordar do amigo quando ele, em sua coluna na Revista "Carta Capital" deste mês, destila sua ira contra uma atitude que considera nefasta da FIFA com relação à Seleção do Togo, vitima de um atentado infame em Cambinda.

Pois bem, neste artigo o Magrão utiliza-se da obra de Goethe, o clássico "Fausto" para esculhambar mefistofelicamente a atitude dos burocratas da FIFA. A sua raiva é tanta que ao fim ele apela: "Esses senhores é que deveriam estar naquele ônibus metralhado impiedosamente pelos guerrilheiros talvez assim, aprendessem alguma coisa.

Ocorre que a vida tem regras e no caso destes torneios são bem públicas e acertadas previamente. Por acaso, o atentado covarde que sofreram os atletas em Munique, na década de 70, deveria ter parado as Olimpíadas? Acho que não. A atitude terrorista que é um termo que não gosto de usar, pois foi com ele que nos trataram e ainda nos tratam o Imperialismo quando resolvem agredir os revolucionários no mundo, mas vamos utilizar por fala no momento de outro termo.

Qual era o objetivo da ação destes elementos? Por acaso seria o de matar os atletas do Togo, ou impedir que naquela localidade houvesse o evento e assim colocar em xeque todas as atividades esportivas, políticas e cultural que podem e devem ser realizadas no continente. A África já é atacada, vilipendiada constantemente pelos europeus que insistem em tratá-la como seu quintal. Jamais engoliram o fato de haver uma Copa do Mundo ou algo parecido por lá. O preconceito grassa as avaliações do mundo branco sobre as inseguranças e violência na África. A atitude do Togo reforça isso, jamais as vidas perdidas voltariam, jamais os ferimentos e a dor seriam amenizados com a retirada da Seleção do Togo de Angola. Acho justíssima a punição, do contrário, equivaleria premiar os agressores que quase obtiveram sucesso no seu intento. Imagine se as outras seleções seguissem-na, seria um risco inclusive para a Copa do Mundo na África do Sul. Imagine você querendo ir à Faculdade e sendo atacado por ladrões e em represália você tranca a matrícula e para de estudar?

Por esta razão, meu amigo Sócrates, considero que apesar da sua boa intenção e de concordar com você em várias críticas aos Cartolas da FIFA, nesse episódio e até em vários outros, eu concordo com eles. A atitude ocorrida em Cabinda deve ser duramente rechaçada por todos que buscam contribuir para que a paz se consolide na África. Ceder às pressões deste grupo é contribuir com o contrário. Às vezes a aparência se confunde com a essência, só às vezes, e por isso devemos ficar atentos. Jogar a água suja com a criança junto é muito pior pra ela.

Escola de Samba Vai-Vai

Ela nasceu no dia 1º de janeiro de 1930 em São Paulo, como um ‘cordão’ e se transformou em Escola de Samba em 1972. Está lá com o mesmo CNPJ de 1930. Embora contestada, se diz a mais antiga da cidade. Mas, polêmicas à parte, não é para qualquer um poder comemorar 80 anos em pleno vigor físico e intelectual. Afinal tem algo que ninguém contesta: seus treze títulos conquistados com muita garra, disciplina, beleza e muito samba no pé.

Vai-Vai comemora seu 80º aniversário em grande estilo, homenageando a sua própria história e a das copas do mundo. Isso mesmo, por conta da feliz coincidência, a Escola nasceu junto com a Copa do Mundo em 1930. Daí uma combinação fantástica entre os anos de história da "Saracura" e as Copas do Mundo.

O enredo é um passeio mágico pela história dela que se confunde com a do bairro do Bexiga, que na verdade é uma parte do Bairro Bela Vista. Simultaneamente o enredo dialoga com o futebol, através da história das copas. O resultado não poderia ser outro, afinal, samba e futebol têm tudo a ver. É isto que a letra do samba-enredo, que promete empolgar a Avenida, explora como ninguém essa sinergia.

Independente do resultado da apuração, já dá para parabenizar este esforço que resulta nesta importante comemoração. Oito décadas de samba, nada mal para quem é de uma cidade que segundo o poeta, Vinicius de Moraes em um dos maiores erros de sua vida, classificou como o "Tumulo do Samba".

Apreciem a letra:

Samba-enredo: Vai-Vai 2010
Composição: Zeca do Cavaco/Afonsinho BV/Fabio Henrique/Ronaldinho FDQ

Vem meu amor
Quero te ver nessa folia
Vem comemorar
80 anos de alegria

Eu viajei e vislumbrei essa história
Num lindo conto de magia
Oitenta páginas de glórias
“ore mãe áfrica”

Peço licença a seus orixás
A negritude que herdei de ti
Me fez vencer tantas batalhas
Eu superei guerras e adversidades
E hoje brindo a liberdade
É show de bola essa emoção

Corta o beque, faz a finta… Olé
Majestade soberana… Pelé (refrão)
A voz do povo que ecoa da favela… É Mandela

O mundo foi jogando na retranca
O futebol a única esperança
A democracia e a globalização
Deram aos craques supervalorização
E agora o “Bexiga” faz a festa
“vambora” minha escola a hora é essa.

Vai-vai, celeiro de bambas
Um só coração, a ginga e o samba
A copa realmente hoje é do povo
Trazendo de novo
O sonho de gritar “é campeão”

É isso aí!

site da Vai-Vai: http://www.vaivai.com.br/

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