STF, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco podem ser decisivos neste momento

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Foto: Reprodução/TV

Já apontado por muitos analistas, a pandemia escancarou muitas das desigualdades mundiais, em especial as que dizem respeito à disponibilização de vacinas para controle da disseminação da doença. Enquanto os países desenvolvidos avançam rapidamente no processo de imunização de suas populações, os países menos desenvolvidos, quase em sua totalidade, sequer iniciaram o processo de vacinação. As grandes economias, financiadoras das principais vacinas e com grande contingente de profissionais e boa estrutura de saúde, adotam o velho ditado “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Tais circunstâncias de desiquilíbrio internacional, no entanto, não explicam a trágica situação brasileira. Ainda que tenhamos caído para a 12ª posição na economia mundial, o que demonstra uma situação de franca decadência, ainda somos uma economia suficientemente forte. Quanto à estrutura e profissionais de saúde, temos o SUS, o mais avançado sistema público do mundo, com profissionais qualificados e invejável expertise em campanhas de vacinação. Para o desenvolvimento de vacinas, temos não só uma rede de universidades públicas, muitas delas com total capacidade para desenvolver vacinas, mas também excelentes laboratórios como Fiocruz e Butantan, referências internacionais, e os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) de vários estados, entre outros.

Em se tratando de universidades, dos mais de 20 estudos de desenvolvimento de vacinas ocorridos no ano passado, absolutamente nenhum recebeu atenção do governo federal. Em coletiva recente, a Anvisa anunciou, enfim, que passou a acompanhar quatro desses estudos. Tivessem essas universidades recebido apoio desde o início, talvez já pudéssemos contar com uma ou mais vacinas próprias, ou já estaríamos bem próximos disso. Cuba, aquele mesmo lugar para onde os fanáticos direitistas nos mandam ir, já tem duas vacinas desenvolvidas e não depende de nenhum laboratório estrangeiro. 

Poderíamos, também, com a nossa massa crítica e capacidade instalada, ter estabelecido vários convênios para desenvolvimento de vacinas com os mais diversos laboratórios do mundo, a exemplo dos convênios firmados entre Fiocruz e AstraZeneca e entre Butantan e Sinovac. Tentativas neste sentido, a exemplo do Lacen do Paraná com o Gamaleya, não avançaram, muito provavelmente em decorrência da submissão do governador bolsonarista ao presidente.

No momento em que escrevo este artigo, vacinamos pouco mais de 5% da população com a primeira dose e pouco menos de 2% com a segunda. Tais percentuais colocam o Brasil, 12ª economia do mundo, na 40ª posição no ranking de vacinação. Sem a Coronavac, tão atacada por Bolsonaro, cairíamos para a 62ª posição e menos de 1/5 dos já vacinados teriam recebido imunizantes. O trágico é que se o país tivesse tomado as medidas necessárias para a produção própria, por meio do desenvolvimento nacional e de convênios, e tivesse se antecipado na contratação de outras vacinas no ano passado, já teríamos mais de 50% da população vacinada. Com isso a pandemia já estaria começando a ser controlada, possibilitando a retomada gradual da economia.

Sem vacinas suficientes para acelerar a imunização, os sistemas hospitalares de todos os estados, sem exceção, começam a entrar em colapso e no Brasil inteiro pessoas começam a morrer na fila de espera por um leito de UTI. Nem mesmo a abertura de novos leitos, numa corrida contra o tempo, resolve mais a situação, pois faltam profissionais, já que os que estão atuando na linha de frente se encontram exaustos, começam a faltar equipamentos hospitalares, assim como medicamentos e até mesmo oxigênio. Beiramos não mais uma situação de tragédia, mas, sim, um clima de terror.

Pazuello antes de ser despachado do ministério, anunciou que até julho teremos os grupos prioritários vacinados. Ainda que o general lambe botas de capitão merecesse algum crédito, tal informação não representa absolutamente nenhum alento, pelo contrário. Fecharemos esta semana ultrapassando o total de 300 mil óbitos no país, com um quantitativo de 3 mil mortos e mais de 100 mil novos contaminados por dia. A taxa de transmissão brasileira, segundo o Imperial College London, chegou a 1,23. Caso não consigamos reduzir este indicador, rapidamente chegaremos a 5 mil mortes diárias. De acordo com o renomado cientista Miguel Licolelis, sem um lockdown nacional, é inevitável que o país ultrapasse as 500 ou 600 mil mortes. Ou seja, a depender da vacinação, com todo o descaso promovido até agora pelo general Pazuello e seu capitão, não se conseguirá evitar a tragédia prenunciada por Nicolelis sem que medidas extremas sejam tomadas.

Pressionado por aliados no sentido de promover mudanças na política de saúde, Bolsonaro decidiu mandar o general incompetente de volta para o quartel. A mudança, no entanto, ao que tudo indica, foi tão somente de um capacho por outro. Em que pese Queiroga ser um profissional médico, já recebeu a ordem de Pazuello para que desse continuidade ao “trabalho” até então realizado. O próprio Queiroga já anunciou que a política de saúde é a do presidente.

Na contramão das expectativas daqueles que acreditaram que algo mudaria, na mesma semana que anunciou o novo pau-mandado da saúde, voltou a atacar as medidas de isolamento social adotadas pelos governadores. Nem mesmo o seu aliado Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, foi poupado. Novamente apela para ameaças totalitárias para intimidar os governos estaduais e municipais, ao tempo que interpõe ação junto ao Supremo para tentar impedir as medidas de toque de recolher noturnas adotadas em alguns estados em situação crítica. Ou seja, longe de a mudança ministerial significar a possibilidade de construção de um consenso nacional de combate à doença, a sinalização dada por Bolsonaro é de que pretende acirrar o confronto. A estupidez é tão grande que sequer uma nota de pesar pela morte de um senador da República o indivíduo é capaz de emitir.

Mas não foram apenas os governadores as vítimas de ataque. Seu mais novo aliado, o Centrão, levou uma rasteira fenomenal. Com medo de afundar junto com Bolsonaro na crise sanitária, o agrupamento indicou uma profissional da mais alta qualificação e de incontestável competência para o Ministério da Saúde. Para forçá-la a recusar o convite, a família miliciana mobilizou sua tropa de fanáticos para impor à médica graves agressões e ameaças, inclusive de morte, chegando ao ponto de alguns tentarem até mesmo invadir o hotel onde ela se hospedara em Brasília.

Resta saber qual será o comportamento de Arthur Lira, o principal avalizador da indicação de Ludhmila Hajjar. Mais do que uma clara indicação de que não mudará nada na condução da pandemia, Bolsonaro mostra que não pagará o preço da aliança abrindo cargos para o bloco centrista. Continuará, na melhor das hipóteses, abrindo espaços para os incompetentes generais de pijama, que fazem coro com sua política genocida. Tanto o manifesto dos 21 governadores quanto as sinalizações de Lula – de querer conversar com Dória e Eduardo Leite e de inclusive abrir interlocução com Biden – apontam a possibilidade de uma ampla convergência para enfrentar Bolsonaro e evitar uma catástrofe ainda maior. Resta saber se o Supremo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco se somarão a este movimento. O futuro do país está nas mãos deles.

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