Sustentabilidade: é possível nos marcos do capitalismo? 

Merece saudação especial o Seminário Nacional do Meio Ambiente promovido pelo Comitê Central do PCdoB em Brasília. Definitivamente um marco histórico onde, por um lado, pudemos contar com a riqueza de pensamentos concepções e o nível de atuação de diverso

A reafirmação da atualidade do marxismo e a percepção da necessidade do uso desse instrumental teórico-científico na elaboração ambiental já fazem uma diferença fundamental e por que não dizer vital.



 



Uma elaboração não menos instigante foi posta na mesa pelo camarada José Carlos Ruy, olhando para a cidade de São Paulo – o maior centro industrial do Brasil – e, portanto o mais desenvolvido (pelo olhar eurocêntrico de desenvolvimento civilizatório). Ruy chamou a atenção para o paradoxo entre as grandes fábricas, os grandes prédios e o esgotamento de recursos a morte de rios como o Rio Tietê e outros afluentes; o paradoxo entre as pavimentações e urbanizações padrões de certos bairros e a miséria, a falta de calçamento e esgotos a céu aberto de outros bairros.  Este é o retrato do “desenvolvimento” sob a lógica capitalista nas cidades brasileiras, agravado por um capitalismo que promoveu no País “rupturas incompletas”.



 



Esta questão não é menor no caudaloso debate do “desenvolvimento sustentável”. Primeiro porque há muito que conversar sobre esse conceito. Podemos partir da pergunta: É mesmo possível a sustentabilidade nos marcos do capitalismo? Tal questão ainda é extremamente polêmica. Há os que concluem que não. E há os que concluem que sim, como os neoclássicos com formulações extremamente político-ideológicos.


 


 


Como a pressa já puxou nossa orelha e já no nosso terreno estamos formulando com a possibilidade positiva, vamos então conversar sobre outras questões não menos importante: Crescimento é igual a desenvolvimento? Desenvolvimento é igual a justiça social? Há diferenças conceituais entre abandono e isolamento?



 


Sabemos que a classe operária, os trabalhadores vivem o abandono mesmo quando quebramos determinadas barreiras como a industrialização ou a abertura de estradas. Isto não se converte automaticamente em acesso à educação, à saúde, à justiça ou mesmo acesso à renda ou ampliação de renda. O discurso da comunicabilidade, do acesso ao mercado ou a centros urbanos à partir de instalações de infra-estrutura é um engodo, uma fábula contada pelos capitalistas imperiais e pela nossa burguesia para ampliar e facilitar a reprodução de seus capitais.



 


O exemplo trazido pelo camarada Ruy focado no centro da civilização do país é um bom exemplo. Quantos estão excluídos do mercado? Quantos já não têm casa onde morar? Quantos mendigam nas ruas por comida? Moram em viadutos e etc?



 


Esta questão é tão óbvia que qualquer jardim de infância marxista poderá constatar. Onde então reside o problema? Exatamente na pressa de alguns dos nossos militantes em comprar esse discurso burguês. Ouvi de um dos nossos de que não há saída. “Este é o caminho para atender as famílias dos camponeses ou seringueiros famintos da Amazônia. O nosso papel –dizia o militante– é organizar os trabalhadores nas fábricas que vão se instalar nas nossas cidades! Serão milhares de seringueiros empregados para se organizarem em sindicatos e realizarem um controle social na relação com os patrões!” (Sic).



 


O capital já nos embriagou com o seu fino pó mortal! Esse movimento não é novo. O grande império prepara-se para realizar mais um ciclo de reprodução e volta-se para o que ainda tem de reservas de recursos naturais. Aqui na Amazônia nós falamos de biodiversidade, biota, etc! E queremos conciliar tal riqueza com interesses privados.



 


Não é verdade que aqui, pegando agora o exemplo do Acre, nós padecemos do mal da fome. Esta doença miserável não é o nosso mal crônico. E não é ainda porque possuímos em nosso tecido social uma relação ancestral do homem com a natureza. É possível vivenciar uma economia natural e uma economia agrícola nas comunidades locais. O que em última análise deixa claro que os homens da Amazônia possuem ainda seus meios de produção.



 


Eles possuem a terra, possuem ferramentas e produção familiar. Eles conhecem o tempo certo do plantio e da colheita, conhecem a mata e sabem como efetuar seu metabolismo de necessidade com a natureza. Ainda que não possuam dinheiro estes homens produzem seus alimentos e alimentam suas famílias.



 


É patente que as condições de vida nas comunidades de economia natural e economia camponesa são de características rude. O trabalho braçal é árduo se comparado com um professor urbano. Mas, não é tão penoso e insalubre se comparado a um pedreiro urbano.  Podemos sim falar de vida humilde e pobreza nessas comunidades. Contudo, estas comunidades e os índios que aqui residem não vivem pedindo sacolões.


 


Portanto é exagero afirmar que estas comunidades padecem da fome e que as fábricas serão a redenção para empregar os filhos destas famílias e retirá-las de um estado degradável.



 


Tal ilusão poderá ser mortal para nossas comunidades se nós não acordarmos para o movimento do capitalismo mundial que prepara bem sua reprodução. Com grandes volumes de capital, o centro imperialista realiza empréstimos não para empresários em particular, mas para o Estado, transformando este empréstimo em dívida pública, que viram novamente papéis com valor para novamente permitirem a cunhagem de moedas na mesma quantidade pelo banco fiador. É o trabalhador quem pagará esta dívida pública!



 


O Estado para contrair tal empréstimo deve se adequar a determinadas condições, para garantir que o investimento terá retorno sem problemas. Tais garantias são pacotes fechados para financiamentos de infra-estruturas e aí sim financiamentos à partir do Estado em capitalistas locais. Também no pacote exige-se a realização de reformas administrativas, preparação de legislações e infra-estrutura para permitir o ingresso do grande capital imperialista. Mas não nos iludamos…



 


Este não virá enquanto não tiver disponível para ele força de trabalho “livre como passarinho”. Isto ocorrerá quando nossos seringueiros e trabalhadores rurais estiverem livres de suas antigas relações de produção (terra e ferramentas). É, então, necessário ao grande capital combater esta economia natural e também a economia agrícola. A atual etapa do grande jogo já está preparada pela IIRSA – Iniciativa para Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana, que tem como principal comandante o BID e cujas linhas mestras estão apoiadas no mercado e na oportunidade de negócios.



 


A burguesia local, alvissareira no primeiro momento, ainda não se deu conta que também será vítima, pois na medida em que o grande capital chega, ocorre a expropriação dos expropriadores iniciais. Daí a necessidade de o Estado brasileiro, avaliar bem o conceito de desenvolvimento sustentável financiado pelo BID. No próximo artigo, vamos especificar melhor, as conseqüências e o ataque às relações de economia natural e agrícola, mas já comemorando o ingresso comunista orgânico à esse debate. Viva o PCdoB!



Referência bibliográfica:


 


JÚNIOR, José Arbex. “Terra Sem Povo”, Crime Sem Castigo. In: TORRES, Maurício (ORG.). Amazônia Revelada. Os descaminhos ao longo da BR-163, Brasília, DF, CNPq, 2005.
LUXEMBURG, Rosa. A Acumulação do Capital. Os Economistas. São Paulo, SP, Nova Cultural, 1985.
MARX, Karl. O Capital, volume II. Cap. XXIV A Assim chamada acumulação primitiva do Capital. Os Economistas. São Paulo. Nova Cultural. 1988.

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