Tecnologia obsoleta

Antigamente, quando um filho tinha uma dúvida era ao pai que recorria. Ir até uma biblioteca para consultar uma enciclopédia ou mesmo em casa, para os que possuíam livros, era uma dificuldade a mais e desmotivava os filhos sedentos por respostas. Neste caso a saída era o bom e velho pai que estava sempre a mão e não havia a necessidade de folhear, nem de verificar o sumário. Só agüentar o cheiro de mofo, mas isto era de menos. Quando o pai sabia a resposta de primeira era uma maravilha, sentia-se realizado, feliz, ego nas alturas, auto-estima nos "top trends". Quando não sabia, ou era honesto dizendo que iria pesquisar e depois respondia, ou não deixava transparecer sua limitação dando uma resposta pouco acabada para em seguida pesquisar e completar o que disse, lapidando o que que foi falado anteriormente e, com isto, marcando pontos com o filhão ou a filhota.

O pai era o letrado, o intelectual particular de seus filhos. Era uma alegria só. Éramos heróis! Não tinha para ninguém. Os olhinhos dos pimpolhos brilhavam e, com isto, nos idolatravam. Como brinde vinha o respeito, a obediência, a consideração, a certeza que seu filho era seu dependente de verdade e que ele não se sublevaria. Tudo dominado.

Mas hoje, hoje não! Hoje está tudo errado. Está tudo acabado. Os filhos não respeitam mais seus pais. Tomaram o poder. Volta e meia pegam o pai em uma mentira e aí, aguenta a chacota. E não é pouca, eles não perdoam. Nós sofremos "bullying"! E quando a sua mulher entra na onda e te zoa também? É terrível!

E de quem é a culpa? Do Google, claro. Eles, os filhos, que não largam mais os smartphones, tabletes, notebooks e todo tipo de paradernália, já te faz uma pergunta com o Google aberto e aquela carinha de quem vai te pregar uma peça. Quando você está formulando a resposta eles já as têm em sua frente e ficam ali só esperando um tropeço seu. É insuportável, você começa a responder morrendo de medo de errar, dá um suador, sua o rosto, as mãos, até a bunda sua. Mas você não pode desistir, caso contrário o desrespeito é maior. Se você desiste fica aquela sensação de que pai não serve mesmo para nada. Pois, quem cozinha, limpa a casa e, também, ainda trabalha fora é a mãe, enquanto que o pai, que é quem deveria responder às perguntas, perde espaço para o Google.

Sorte da mãe que cozinha, pois se eles inventassem um Google para cozinhar, ela também seria, como os pobres pais, tecnologia obsoleta.