Troca de prisioneiros em Israel

Há duas semanas, foi empossado um novo governo no Líbano, tendo o grupo guerrilheiro Hezbolláh obtido, por acordo, 11 das 27 cadeiras do ministério, adquirindo, portanto, poder de veto em decisões governamentais. Em troca, claro, o Partido aceitou o gover

Esta semana o candidato Democrata dos EUA, Barak Obama, faz um giro pelo mundo e desembarcou no Oriente Médio, mas, talvez o fato mais relevante tenha sido a troca de prisioneiros e corpos de soldados mortos de ambos os lados, na guerra de libertação da Palestina e do Líbano contra Israel.


 


 


Uma troca delicada


 


 


O dia era uma quarta-feira, 16 de julho. Um fato inédito na política israelense. Um governo sionista aceita trocar prisioneiros com um grupo guerrilheiro do país vizinho, o Hezbolláh. As negociações haviam começado há vários meses. Israel não costuma negociar com “terroristas” como são chamados pelo governo sionista e pela mídia grande todos os que, de armas em punho, lutam pela libertação e emancipação de seus países e povos.


 


 


A negociação em curso dizia respeito à captura de dois soldados israelenses na guerra de junho e julho de 2008, há dois anos que matou 1.200 libaneses e 159 israelenses, entre soldados e civis. Foi a maior derrota de Israel em guerras desde a primeira em 1948. Os soldados capturados eram Ehud Goldwasser e Eldad Reguev. Não se sabia se estes estavam vivos ou mortos.


 


 


Logo pela manhã, um caminhão da Cruz Vermelha Internacional cruzou a fronteira do Líbano com cinco prisioneiros libaneses e palestinos libertados. Á frente Samir Kantar, um dos mais antigos presos políticos que Israel mantém em suas masmorras. Logo atrás desse caminhão, um comboio de outros nove caminhões levava caixões de 199 mortos palestinos e libaneses que estavam em  poder dos israelenses.


 


 


O grupo Hezbolláh já havia repatriado os cadáveres dos dois soldados israelenses, que, agora, haviam sido confirmados como mortos. Transcorreu cerca de cinco horas até que equipes de legistas forenses confirmou que eram mesmo os corpos dos soldados israelenses acertados no acordo de troca, a partir de testes de DNA.


 


 


Do lado libanês e palestino, foi um dia de festa. Os cinco prisioneiros, em uniformes militares, foram recebidos em Beirute e nas cidades em que nasceram como verdadeiros heróis. O enterro coletivo dos 199, com caixões com bandeiras de seus países, foi um ato nacional e comoveu todo mundo. Compareceu o presidente libanês, o cristão Michel Suleiman, o primeiro Ministro Siniora. O líder do Hezbolláh, xeque Hassan Nasrallah, cuja vida é ameaçada pelo serviço secreto de Israel, fez rápida e discreta aparição.


 


 


Repercussão e desdobramentos


 


 


Do lado de Israel, o já enfraquecido primeiro Ministro Ehud Olmert, compareceu aos funerais dos dois soldados. Fez discurso demagógico de sempre, afirmando que Israel não abandona nenhum de seus soldados para trás, mesmo seus corpos. O acordo de troca foi aprovado pelo seu gabinete por ampla maioria de seus ministros. O argumento é que seria melhor receber os corpos dos soldados do que nem isso.


 


 


Mas, também recebeu críticas ferrenhas da oposição, geralmente capitaneada por partidos judaicos ortodoxos e fundamentalistas. O argumento era de que se essa moda pega incentivaria os seqüestros de soldados e enfraqueceria o estado, que teria que negociar com “criminosos” e “delinqüentes”, como também são chamados os lutadores palestinos e libaneses.


 


 


A questão central levantada é exatamente a assimetria da troca. De um lado, os palestinos e libaneses receberam 199 corpos de seus mártires mortos em combate e cinco soldados e combatentes vivos, recebidos como heróis no Líbano. Do lado israelense, estes receberam dois cadáveres.


 


 


Nesse processo, o Hezbolláh, que já era um dos grupos políticos mais fortes do Líbano, cresceu ainda mais, ampliou a sua influência, é respeitado até por partidos e grupos políticos não muçulmanos. Samir Kantar é figura de projeção nacional. E declarou estar disposto a continuar a sua luta pela libertação do Líbano e da Palestina e contra Israel.


 


 


Apesar das conversações, ainda que indiretas, com a Síria prosseguirem, pela devolução de Golãn; apesar da participação do Hezbolláh no novo governo libanês; apesar de sinalizações de reconhecimento do grupo Hamas no plano internacional e possível paz em Gaza, continuo cético com relação a uma paz global no Oriente Médio.


 


 


É claro que as coisas podem mudar de rumo com a vitória de Barak Obama nas eleições americanas em novembro próximo. Ele anuncia retirada das tropas americanas do Iraque em até 16 meses e, provavelmente, não daria aval ao governo israelense para prosseguir seus ataques aos palestinos. Vamos acompanhar essa evolução com atenção redobrada.

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