UJS: uma entidade mais complexa e com senso de prioridade

A UJS de 2011 é uma entidade mais extensa em militância, mais complexa na sua pauta e mais diversa em suas áreas de atuação em comparação ao que era uma década atrás. Não fossem tais mudanças, que engrandeceram nossa entidade, a UJS não conseguiria ser viva e pujante hoje, talvez a mais importante e longeva experiência de organização política juvenil brasileira.

Uma rápida análise dos dados expostos na Rede UJS, importante instrumento de organização e comunicação recém lançado, corrobora a afirmação acima. Para além da sólida e massiva militância identificada com o movimento estudantil, seja ele universitário ou secundarista, composta por dezenas de milhares de jovens, temos expressivo número de militantes que apontam predileção em atuar em outras dez frentes.

Numa segunda escala, após o movimento estudantil, temos alguns milhares de filiados interessados em áreas como esporte, jovens trabalhadores, cultura, hip hop e jovens cientistas. Ainda existem outros tantos identificados com a militância antirracista, comunitária, ambientalista, de democratização da mídia e LGBT.

A Autonomia das Frentes

Nessa UJS mais complexa, não pode haver vacilação, compasso de espera. Nosso 14 Congresso deu uma contribuição neste sentido que, ao meu ver, ainda não teve todas as suas consequências tiradas: a autonomia das frentes.

Para mim, a autonomia das frentes nada mais é do que a liberdade de iniciativa. É a capacidade dos coletivos que atuam em determinada área discutirem pautas concretas para ele, visando conquistas, e, por óbvio, o crescimento da própria frente. Para tanto, há necessariamente que se planejar a ação a partir de uma agenda de atividades.

As frentes devem ter toda a liberdade para fazê-lo – aliás, é imprescindível que o façam – desde que em harmonia com as definições políticas de nossa entidade. Dado o elevado grau de coesão interna, acredito bastante improvável que existam rusgas importantes nesse quesito.

Existe, portanto, a necessidade de se tirar conseqüência dessa liberdade de iniciativa. É preciso fomentar que isso aconteça mais e mais para que este imenso material humano militante seja mobilizado permanentemente em serviço das causas progressistas e da luta pelo socialismo.

A centralidade do ME

Mas reconhecer o valor e incentivar a diversificação não significa nivelar as frentes, nem que aja ausência de prioridades. A UJS é clara e objetiva em dizer: nossa prioridade central continua sendo o movimento estudantil universitário e secundarista, nesta ordem.

E isso não é por motivo de vontade ou profissão de fé. É uma escolha baseada na realidade e nas lutas históricas que constituíram nosso país e nosso povo.

Não houve nenhum movimento progressista importante, desde a década de 30 do século passado, que não tenha sido impulsionado pela União Nacional dos Estudantes. E, antes dela e desde que existem universidades no país, são os estudantes os vocalizadores dos anseios juvenis. Correndo o risco do exagero: o Brasil escolheu a UNE para esta tarefa.

Justiça seja feita, os estudantes retribuíram construindo um movimento generoso, que não se basta nas pautas corporativas e sempre pensou e agiu pelo bem do Brasil e dos brasileiros, procurando contribuir para a construção de uma nação unida, desenvolvida, democrática e soberana. Por outro lado, nunca tergiversou quando o que esteve em jogo foram as conquistas educacionais e os direitos dos estudantes.

Autonomia como marca

Outra característica marcante e que historicamente ajudou a forjar a unidade do movimento estudantil brasileiro é a autonomia ante a partidos e governos. Outro dia assistia a um filme sobre o governo JK que, ao falar do rompimento deste com o FMI, reproduziu um discurso do então presidente da UNE que traz uma frase definitiva: “A UNE não é nem governo nem oposição, é a favor do Brasil.” Nada mais certeiro.

Esta postura altiva, independente, proporcionou a UNE a experiência incrível de ser reivindicada por um leque de correntes políticas e posições ideológicas que abarca da extrema esquerda à direita neoliberal.

Esta é uma conquista que merece cultivo perseverante e vigilância permanente. Seria empobrecedor que uma entidade com a história da União Nacional dos Estudantes atrelasse seu lastro político e social a um projeto partidário ou de governo. Por bons que sejam, sempre haverá o movimento social de guardar uma distância saudável e regulamentar distância destes para que possa zelar e lutar pelo avanço continuado de seu projeto. Fora disso, perderia credibilidade e excluiria de sua representação forças que podem ser de oposição numa determinada conjuntura, mas que têm valor e podem ser aliadas no fundamental: a defesa do país, da educação e dos estudantes.

O maior e mais importante evento juvenil brasileiro

Isto faz do movimento estudantil o pólo mais dinâmico de mobilização dos jovens brasileiros. Não por outra razão, esta é a principal frente de atuação da UJS e também de onde vem a maior parcela de seus componentes.

Pelo exposto acima, não tenho dúvidas na assertiva: o congresso da UNE é o principal evento juvenil brasileiro. Momento rico de ebulição política, formulação e debate democrático, o 52º Congresso da UNE vai se debruçar sobre grandes questões do país, mobilizando milhares e milhares de novos ativistas.

Para a UJS é o momento alto do tensionamento de suas forças. É o momento em que mais crescemos, mais exercitamos nossa capacidade de formular, mobilizar, inovar. Para extrairmos todas as conseqüências disso, é necessário que façamos ampla campanha de apresentação e filiação de nossa entidade. Que nos atiremos de cabeça nesse processo.

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