Venezuela: tensão na fronteira

Ao se chegar na fronteira do Brasil com a Venezuela, mais precisamente em Pacaraima, tem-se a nítida impressão de se ter desembarcado numa zona de guerra. Ali, militares nervosos se misturam a refugiados e provocadores que fazem proselitismos a favor de Juan Guaidó, o fantoche do império americano, que se autoproclamou presidente da Venezuela sem ter obtido sequer um voto para essa função.

E o mais grave é que essa aberração tenha obtido apoio de dezenas de nações – incluindo o Brasil – nessa cruzada contra a democracia, a soberania e a autodeterminação do povo venezuelano.

O aparente desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, incluindo alimentos; o fluxo permanente de migrantes que procuram ingressar no território brasileiro; bem como a existência de quase uma dezena de abrigos de refugiados apenas em Boa Vista, capital de Roraima, denunciam, indicam, que certamente há problemas no país vizinho que reclamam imediata solução.

Não se trata, portanto, de desconhecer os problemas e nem mesmo discutir se os fenômenos que deram causa a essa situação são por eventual incapacidade gerencial ou por sabotagem nos moldes do que ocorreu no Chile, nos tempos do presidente Salvador Allende, que acabou morto pela ditadura de Augusto Pinochet. Trata-se, sim, de definir quem tem legitimidade para resolver esse impasse.

E aqui não há acordo. Enquanto nós entendemos que apenas e tão somente o povo venezuelano, sem qualquer tipo de intromissão estrangeira, tem direito e legitimidade para resolver os seus próprios problemas, as forças de direita defendem abertamente a solução golpista com intromissão estrangeira.

Os apoiadores de Guaidó nem sequer se preocupam em esconder que estão a serviço do império americano. Eles agem à luz do dia, sem qualquer constrangimento. Defendem publicamente a solução do impasse pela via militar e o incitam a pedir a intervenção dos marines americanos. É gente, assim como a direita brasileira, com elevado complexo de “vira lata”.

Expressam as contradições da luta de classes na mais primária de suas formas e compõem um retrato grotesco do atual conflito civilizacional. Tal qual os apoiadores de Bolsonaro no Brasil, os seguidores de Juan Guaidó se situam no espectro daqueles que são ideologicamente de direita, intelectualmente obtusos e operacionalmente violentos.

Recorrem a provocações de toda ordem, como ficou evidente no incêndio dos caminhões com a “ajuda humanitária”, na fronteira colombiana, ou no lançamento de pedras e coquetéis molotov contra a guarda nacional, na fronteira com o Brasil, como são unânimes em afirmar as testemunhas.

É gente, como o novo establishment brasileiro, que considera a conservadoríssima ONU um “bunker do socialismo” ou que sustenta que “a terra é plana” e contrapõe o “criacionismo” à seleção natural das espécies, em que pese todas as evidências científicas a demostrar o contrário.

Mas esse impasse não convém a ninguém. Tem provocado prejuízo tanto a Venezuela quanto ao Brasil e em particular ao estado de Roraima, que se vê privado do intenso comércio que mantém com a Venezuela e igualmente privado do abastecimento de seus carros com gasolina a R$ 1,20 reais, no posto montado na fronteira exclusivamente para atender brasileiros. Sem mencionar a energia elétrica de Roraima que vem da hidrelétrica de Guri.

Apoiar o povo venezuelano na busca de uma solução pacífica para essa crise, sem qualquer tipo de interferência estrangeira, é a tarefa central de quem efetivamente quer resolver o impasse e não apenas arrumar pretextos para se apropriar dos recursos naturais da Venezuela, especialmente da maior reserva de petróleo do planeta.

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