Viva a derrota de Trump!

Não faltam motivos para celebrar a derrota de Donald Trump nas eleições americanas. Quanto a Biden, é preciso ficar atento a postura expansionista habitual dos EUA

Foto: reprodução

Nações, povos e governos amantes da democracia e da liberdade comemoram com muita razão e efusividade a derrota de Trump nas recentes eleições norte-americanas.

Sobram razões para a celebração.

Trump, seguramente, foi, ao longo das últimas décadas, a caricatura mais acabada do imperialismo norte-americano – seu ódio e aversão à democracia, aos direitos e às diferenças sociais e raciais.

Não faltaram em sua curta gestão atos hostis e ameaças aos que, em seu país e fora dele, ousavam manifestar-se contra os apodrecidos interesses norte-americanos espalhados pelo mundo – do capital financeiro, das poderosas corporações econômicas ou do poderio militar.

Fez um jogo de cena com o líder norte-coreano Kim Jon Un única e exclusivamente para ganhar tempo e, de forma oportunista, utilizar o fato para argumentar que ele fora o único presidente norte-americano a dissipar a possibilidade de um confronto nuclear, hipótese absolutamente falaciosa diante do manifesto caráter defensivo do programa nuclear da Coréia Socialista, enquanto, nos bastidores, trabalhava intensamente pela manutenção das odiosas sanções econômicas contra o país de seu interlocutor.

Os contínuos e criminosos bloqueios a Cuba, as agressões à Síria, à Venezuela e ao Irã, bem como o conluio com grupos terroristas espalhados em várias partes do mundo sentenciam com eloquência o caráter imperialista e genocida do presidente que está prestes a deixar a Casa Branca e, com ele, sua repulsa à ciência e às  reconhecidas conquistas civilizatórias dos Estados Unidos da América, terra de Lincoln,  Roosevelt, Luther King, Kennedy, John Lennon, entre outros representantes dos valores mais nobres da democracia, da liberdade e da justiça naquele país.

Basta dizer que, até o momento, graças à política negacionista de Trump frente à pandemia, a mesma que Bolsonaro reproduziu no Brasil, o número de norte-americanos mortos pela Covid-19 já quase alcança o número de cidadãos daquele país que perderam a vida na Segunda Grande Guerra.

Portanto, celebremos a derrota de Trump!, especialmente a maioria dos brasileiros que nunca aceitou o alinhamento febril de Bolsonaro e de seu Beato Salú, o mesmo que desonra a chancelaria brasileira, com atual presidente da potência do norte, cujos resultados, sob todos aspectos – diplomático, político, econômico e comercial, foram desastrosos para o Brasil, sua economia e sua condição de país soberano. Nada ganhamos com essa política míope, a não ser a desconfiança de dezenas de nações pelo mundo afora, isolando-nos crescentemente.

A derrota de Trump, portanto, enfraquece a posição de Bolsonaro não apenas no plano internacional, mas também internamente, devendo – e é o que esperamos, vitaminar ainda mais o processo galopante de desgaste dos representantes do bolsonarismo nas eleições que ocorrem no próximo dia 15 de novembro.

Bem, sobre Trump, ficamos por aqui.

Todavia, por uma questão de prudência, não devemos celebrar a vitória de Biden com a mesma veemência com que damos Vivas! à derrota de Trump.

Desde a Segunda Guerra, com raras exceções, republicanos e democratas revezam-se politicamente na Casa Branca, apresentam-se com discursos dissonantes especialmente sobre questões internas, mas, invariavelmente, mantém a mesma postura expansionista e agressiva na relação com as demais nações, notadamente às que não rezam pela cartilha imperial.

É verdade que Bolsonaro deverá passar por sérios apuros na questão ambiental, por exemplo, diante da manifesta decisão do presidente eleito dos EUA de aderir ao Acordo de Paris pelo que esse documento representa de negação da política conivente do governo brasileiro com os crimes ambientais em nosso país.

No entanto, nunca é demais lembrar que Biden, como vice de Obama, esteve na linha de frente da guerra de ocupação que derrubou o governo legítimo da Líbia, no apoio descarado aos neonazistas ucranianos e ao Estado Islâmico responsável pela conflito na Síria que já matou milhares de inocentes. E, antes, como senador, apoiou os bombardeios da OTAN contra Sérvia e Montenegro e as guerras do Afeganistão e do Iraque.

Diante desse histórico, haveria algum motivo para acreditarmos que haverá uma mudança no caráter imperial do governo norte-americano com Biden na Casa Branca? É evidente que não, até porque, como já assinalamos, mais ou menos intensamente, os ocupantes da Casa Branca nas últimas décadas foram e são reféns dos poderosíssimos interesses das corporações industrial-financeiras associadas às das armas e da grande mídia.

Todavia, como a sua vitória foi em grande medida turbinada por importantes movimentos em defesa da vida e dos direitos sociais, nunca antes tão ameaçados, é também sensato alimentar a esperança por uma mudança de postura, até pelos escombros que serão deixados pelo antecessor.  Por enquanto, mantenhamos as barbas de molho, sem descurar da importância da derrota de Trump e seus reflexos positivos no Brasil.

Viva a derrota de Trump!

Quanto a Biden, instrumento desse feito histórico, esperamos que os ventos progressistas de sua campanha vitoriosa o façam se encontrar com aqueles valores civilizatórios que foram arrebatados nos Estados Unidos ao longo do tempo por grupos cada vez mais poderosos, agressivos e diminutos.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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Um comentario para "Viva a derrota de Trump!"

  1. Darcy Brasil disse:

    Eu excluiria Kennedy dos representates dos valores civilizatórios estadunidentes. Preservaria Roosevelt na lista com alguma má vontade e, por último, devolveria a John Lennon a nacionalidade Inglesa.

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