Vamos por partes, como dizia Jack, o Estripador.
A resistência à aplicação da lei celerada da deforma trabalhista se dá em três níveis articulados entre si e modulados no tempo.
Há um teste definitivo para avaliar hoje se o dirigente sindical é um bom dirigente. Basta perguntar-lhe qual é a pior das maldades da lei celerada da deforma trabalhista.
A aprovação em tempo recorde da lei celerada da deforma trabalhista se deu na Câmara sob o lema de “rápido como quem rouba!” e no Senado de “me engana que eu gosto”.
Em uma luta não se pode cometer o mesmo erro duas vezes porque a segunda vez será teimosia estúpida ou traição deslavada.
Escrevo na véspera do dia em que os trabalhadores brasileiros e o movimento sindical realizarão manifestações em todo o país contra a lei celerada da deforma trabalhista. O patronato quer impô-la já nas negociações e, neste caso, o legislado deve prevalecer sobre o negociado.
O Diário Oficial da União publicou no dia 30 de outubro a medida provisória 805 que adia o reajuste salarial do funcionalismo público federal, aumenta a sua contribuição social (inclusive dos aposentados) e reduz a ajuda de custo e o auxílio moradia.
Há leis que pegam e leis que não pegam. A lei da deforma trabalhista não pegará. Ela será desfeita pela combinação da resistência dos trabalhadores, da sua inconsistência legal e da insegurança jurídica criada por ela nas relações empresariais e do trabalho.
A sociedade brasileira e o próprio movimento dos trabalhadores encontram-se em um estado de passividade resiliente. Resistem às dificuldades e apoiam-se no que ainda resta do colchão social, mas permanecem, en masse, passivos.
Fui convidado pelo presidente Oswaldo de Barros a falar no 5º Encontro Nacional dos Trabalhadores em Educação e Cultura na sede de sua confederação nacional (CNTEEC) em Brasília. Deveria repisar um artigo meu, publicado logo após a aprovação da lei da deforma trabalhista, em que sintetizava nas quatro patas de um molosso as modalidades de resistência e enfrentamento do desmanche sindical.
Refletindo sobre a inacreditável ausência do tema sindical no simpósio internacional da USP sobre os 100 anos da revolução russa constato que tal desprezo é uma deformação presente nas produções acadêmicas aqui no Brasil e no mundo.
No que nos diz respeito lamento que a maratonística comemoração do centenário da revolução russa preparada pelo Departamento de História da USP e realizada de 3 a 6 de outubro com suas 95 (se contei direito) mesas temáticas não tenha abordado nelas o papel dos sindicatos. O prospecto que descreve os eventos nem mesmo registra a palavra sindicato.
Na situação em que hoje se encontra o movimento sindical dos trabalhadores qualquer vitória é muito bem vinda e merece ser valorizada. Um grama de boa notícia pesa mais que cinco quilos de realidade bruta.