Do folclore medieval português, recontado por António José da Silva, nos vem essa figura diabólica, que se esmera em “armar laços em que caem os fracos e ignorantes”.
Levando-se em conta a correlação de forças no Congresso Nacional (completamente encharcado pelo neoliberalismo rentista e temeroso dos desdobramentos das operações policiais e das cobranças dos sindicatos) o placar da votação do relatório Ferraço na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado foi apertado para o governo e para a deforma trabalhista.
Não foram 100 mil paulistanos na Avenida Paulista, não foram 100 mil cariocas na Cinelândia, não foram 100 potiguares na Praça Cívica, nem 100 mil curitibanos na Praça Santos Andrade. Foram mais de 100 mil brasileiras e brasileiros de todos os cantos do país convocados, organizados, transportados e alimentados pela estrutura do movimento sindical unido.
Embora o campo de batalha das “deformas” seja o Congresso Nacional, as tropas mais aguerridas envolvidas nela são as do movimento sindical que tem pequena representação congressual.
Indiquei em minha última coluna aquelas que considero as três preocupações decorrentes do novo patamar alcançado por nossa resistência com a vitória da jornada do 28 de abril.
O grande feito da jornada do 28 de abril (e das comemorações do 1º de Maio, que este ano foram o seu prolongamento) foi demonstrar perante o povo brasileiro – e consequentemente perante o mundo político – a relevância do movimento sindical dos trabalhadores.
Em 1891 uma polêmica agitou os círculos operários e socialistas na Europa. Naquela época tratava-se de fixar o 1º de maio como data internacional a ser comemorada em todos os países.
De hoje até o dia 28 o que se deve fazer é preparar com cuidado e empenho o sucesso daquela jornada, sem divisões, sem vacilações, sem confusões.
Os jovens que participam do movimento sindical- e mesmo alguns veteranos- precisam ficar sabendo de como foi dura a luta durante a ditadura, cheia de armadilhas e desafios.
Pelos meus cálculos o número de leitores regulares de jornal impresso no Brasil oscila em torno de cinco milhões; o número de filiados aos partidos políticos é de 12 milhões e o total de sindicalizados ultrapassa os 18 milhões.
Tenho insistido muito na necessidade de uma demonstração de força do movimento sindical repudiando e condenando a reforma previdenciária do governo com a palavra de ordem de “nenhum direito a menos”.
É muito difícil, sem parecer petulante, explicar as dificuldades porque passa o movimento sindical para garantir o “nenhum direito a menos” dos trabalhadores e organizar fortes manifestações de resistência.