“Mas a vida, a vida, a vida,/a vida só é possível/reinventada”, ensina Cecília Meireles. Entretanto, muita gente gostaria de ter um “manual de instruções” com fórmulas prontas para cada nova situação, tamanha a perplexidade que experimenta diante do evolver multifacetado da vida.
O jogo é pesado e tem motivações muito mais profundas do que o que aparece na superfície – que por si já tem o peso de cinquenta transatlânticos, a tentativa de interromper o mandato da presidenta Dilma.
O noticiário sobre a complexa e intrincada situação política embaralha tudo, segundo os interesses unânimes da grande mídia oposicionista.
Pouco mais de um mês antes da posse, que ocorreria no primeiro dia de 2003, o presidente Lula foi recebido em almoço na Prefeitura do Recife pelo então prefeito João Paulo, eu e alguns integrantes de nossa equipe de governo.
A diferença é que entre 1946 e 1964, quando se notabilizou na cena política brasileira, situando-se à direita e acicatando governos constituídos pelo PSD e pelo PTB, a chamada "banda de música da UDN" reunia gente de talento. Na rinha parlamentar, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Bilac Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, Aliomar Baleeiro e outros, compareciam com um discurso articulado e plasticamente palatável.
Já nos estertores do regime militar, meados de 1982, se não me engano, numa reunião do Comitê Central do PCdoB, ainda na semiclandestinidade, João Amazonas observa, de passagem, em seu informe, a disposição de se encontrar com o vice-presidente da República:
Mar revolto, tempestade persistente, bússola avariada, ameaças por todos os lados… Para onde vamos?
É possível que o primeiro pronunciamento da Frente Brasil Popular – o Manifesto ao Povo Brasileiro, lançado sábado último, em Belo Horizonte – exiba certa dispersão, pela multiplicidade de bandeiras, e careça de foco, tendo em conta a gravidade da crise atual e a necessidade de uma ação imediata e certeira.
Quando a ameaça se apresenta por todos os lados e a gente corre o risco de ser engolido, o jeito é abrir os braços e resistir.
A analogia parece exagerada, mas cabe.Sob o tiroteio parlamentar e midiático, para preservar a ordem democrática, buscar a governabilidade e retomar o crescimento do país, a presidenta Dilma e as forças que a apoiam movem-se sobre uma chapa quente. Parar é impossível, o calor sob os pés não permite; movimentar-se é necessário.
É nas alturas mesmo a que me refiro, via aérea, e não à altura alcançada pelas turbulências econômicas e políticas que marcam a fase atual de instabilidade no país.
Até bem pouco tínhamos tão somente e perigosamente a quebra de braço entre o governo e a oposição midiática e partidária, acrescida de insatisfeitos de diversos matizes.