A eleição de Fernando Lugo, a energia de Itaipu e a integração continental

A eleição do ''bispo dos pobres'' Fernando Lugo para a presidência do Paraguai confirma a tendência sul-americana de escolher governos voltados para o atendimento das necessidades dos povos do continente e que se contrapõem às oligarquias regionais e aos representantes do imperialismo estadunidense.



Mal disfarçando sua torcida contra a vitória de Lugo – confirmada pelo eleitorado paraguaio no domingo -, a mídia conservadora brasileira arrolou, desde a campanha eleitotal, os possíveis ''problemas'' que sua escolha representaria. Seria um novo Evo Morales, diziam os jornalões, referindo-se à defesa dos interesses do povo boliviano que levou o governo daquele país a renegociar, de forma muitas vezes dura, tratados lesivos à sua soberania e aos direitos de seu povo.



A principal bandeira da campanha eleitoral do novo presidente paraguaio foi a defesa da revisão dos tratados com o Brasil e com a Argentina, concretizados há mais de duas décadas, quando as ditaduras das duas nações acertaram com a ditadura paraguaia de Alfredo Stroessner o uso do potencial hidrelétrico dos rios que fazem a fronteira entre estes países.


 


Outro problema é a existência de latifundiários brasileiros que plantam soja no Paraguai (os ''brasiguaios''), e que poderão ser afetados pela prometida reforma agrária que Lugo defendeu durante a campanha.



Mas o principal item da campanha – e da agenda com o Brasil – é o tratado de Itaipu, que viabilizou a contrução daquela que é hoje a maior hidrelétrica em funcionamento no mundo.


 


Ela foi construída no rio Paraná, envolvendo os lados brasileiro e paraguaio daquele gigantesco curso d'água. Pelo tratado, a energia elétrica obtida pertence aos dois países – metade para cada um. E o Paraguai é obrigado a vender para o Brasil, a preço de custo, a parte da energia que não usa.



Aqui começam os problemas, que os dois países precisam resolver resguardando suas soberanias nacionais. Como o Paraguai consome apenas 12% de sua parte – o que corresponde a 6% da energia de Itaipu – o restante (38%) é vendido ao Brasil a um preço considerado baixo e que, sendo cotado em dólar, é erodido pela queda no valor da moeda estadunidense.



O governo do presidente Lula, que já vinha conversando com o governo paraguaio, manifestou publicamente a intenção de aprofundar estes contatos. Depois da confirmação da vitória, o chanceler Celso Amorim considerou justa a reivindicação paraguaia de renegociar o preço da energia elétrica comprada do Paraguai. O presidente eleito Fernando Lugo manifestou disposição semelhante, e defendeu a racionalidade e a objetividade na negociação.



Trata-se de um problema cuja solução interessa ao desenvolvimento daquela nação. E que também interessa ao Brasil não apenas por injunções de natureza ética, mas também pelo fortalecimento do Mercosul e da integração continental.