A humilhante prisão dos imigrantes brasileiros

As dramáticas imagens de 40 imigrantes brasileiros detidos num caminhão sem janelas no Texas, que foram amplamente difundidas pela mídia nacional e mundial, causam profunda dor e revolta e exigem reflexão. Segundo relatos, o caminhão já estava a 120 quilômetros do México quando foi barrado pela Patrulha de Fronteira. Os “ilegais” viajavam sentados no chão da carroceria fechada de um veículo sem qualquer refrigeração. “Quando os policiais abriram o baú do caminhão, sentiram o enorme calor que vinha de dentro”, relatou o porta-voz da polícia, Oscar Saldaña, um mexicano naturalizado nos EUA.



Apesar das precárias condições, nenhum deles foi hospitalizado – nem os dois menores de 10 anos. Todos foram conduzidos ao centro de detenção de Raymondville, aonde deverão permanecer presos por duas ou três semanas antes de serem deportados para o Brasil. Dias antes, no domingo (18), outros 67 imigrantes ilegais, entre eles 18 brasileiros, foram detidos no estado mexicano de Chiapas. Por pressão do governo dos EUA, desde 2005 o México voltou a exigir o visto dos cidadãos brasileiros. Somente no ano passado, mais de 90 mil imigrantes latino-americanos foram detidos pela truculenta polícia de Chiapas.



O lamentável episódio serve para desmascarar o presidente George Bush, que visitará o Brasil nos dias 8 e 9 de março. Preocupado com o crescimento das forças de esquerda na América Latina e com os avanços da integração regional, ultimamente ele tem insistido que deseja “reforçar a parceria” com os países da região. Na prática, porém, sua política agrava o protecionismo econômico e as barreiras à livre circulação dos latino-americanos. No ano passado, o governo dos EUA enviou mais 6 mil soldados para a Patrulha de Fronteira, triplicou as cercas que dividem o país e ergueu torres de iluminação com potentes holofotes. No aterrorizante “Muro da Vergonha”, tão pouco falado pela mídia, já morreram milhares de imigrantes.



Por outro lado, o episódio revela os limites das mudanças empreendidas pelo governo Lula. A maioria dos brasileiros que se aventura em viagens ilegais aos EUA é formada de jovens – como os que foram detidos no Texas. Sem perspectivas de emprego no país – o IBGE acaba de divulgar que o desemprego aumentou em janeiro, atingindo 9,3% da PEA –, eles são seduzidos pela falsa imagem do paraíso do consumo, caem nas mãos da máfia de agenciadores de mão-de-obra, são presos e deportados ou acabam trabalhando em condições escravizantes como “ilegais”. Mesmo assim, eles preferem arriscar a receber o Bolsa Família.



Enquanto o Brasil não alterar a sua política macroeconômica, rompendo com os entraves neoliberais ao crescimento, milhares de brasileiros continuarão sendo presos e humilhados na fronteira com os EUA.