A mídia e a lama do PSDB

Isso tudo é uma hipocrisia, disse em 1992 Paulo César Faria, o PC, tesoureiro da campanha do então presidente Fernando Collor; era o auge da campanha do Fora Collor, que acabou expulsando o presidente neoliberal do Palácio do Planalto.



A hipocrisia continua, quinze anos depois. Sua última manifestação é o comportamento da mídia e da oposição de direita às declarações do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), da última quarta-feira. O senador foi governador de Minas Gerais e presidente do PSDB, afastado quando se soube que usou caixa 2 na campanha eleitoral de 1998.



Investigado, Azeredo defendeu-se atacando; não só reconheceu a falcatrua como disse, em entrevista para a Folha de S. Paulo, que os recursos irrigaram também a campanha de Fernando Henrique Cardoso que, naquele ano, disputou – e venceu – a reeleição para a presidência da República. Cerca de 150 candidatos tucanos (entre eles o atual governador Aécio Neves, que na época era candidato a deputado federal) e de partidos aliados. Eles teriam sido beneficiados pelos fundos amealhados pelo caixa 2 tucano, que envolveu recursos da ordem de R$ 100 milhões, embora a prestação de contas para o TSE tenha declarado que a campanha do então governador mineiro tenha gasto ''apenas'' R$ 8 milhões (8% do total arrecadado).



O alvoroço no ninho tucano foi imediato. Cardeais do PSDB passaram a exigir, nos bastidores, o afastamento de Azeredo do partido. Os impropérios multiplicaram-se, e os qualificativos mais suaves usados contra ele foram ''mau-caráter'' e ''transtornado''. É ''algo surrealista'', disse o lider tucano no Senado, Arthur Virgilio (AM). Tasso Jereissati, presidente do PSDB – que tentou, em vão, obter uma retratação de Azeredo – disse que as declarações são demonstrações de indignação e transtorno mental.



Os catões tucanos, que posam de puros, inocentes e ''republicanos'', para usar um termo da moda, foram pegos no contrapé e são obrigados, pela voz de um de seus próprios pares, a provar do mesmo fel que destilam, desde o início de 2006, contra o governo do presidente Lula. E saem, na maior cara de pau, defendendo o ex-presidente FHC com o argumento de que ele não sabia de nada.



Pior: a mídia e alguns tucanos notórios, passaram a defender a tese de que não há semelhança entre os acontecimentos relatados – o uso de dinheiro sujo na campanha tucana de 1998 em Minas Gerais e também para a presidência da República – e as acusações que fazem contra o presidente Lula, o PT e demais partidos da base aliada. Seriam coisas diferentes, como defendeu o escriba Augusto de Franco em artigo publicado na Folha de S. Paulo.



O próprio procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, passou recibo a este comportamento ambíguo ao se irritar com a divulgação de um relatório da Polícia Federal com resultados da investigação sobre o caso, e disse que não levará em conta as conclusões daquele documento. É uma atitude pouco condizente com a imparcialidade que se espera da justiça e de seus servidores. Afinal, ele não manifestou irritação semelhante quando a imprensa difundiu amplamente acusações contra o governo Lula, o PT e seus aliados, com base em fontes nas mesmas fontes.



Há um recado implícito no comportamento conservador: para a classe dominante e seus políticos, tudo é permitido, desculpável, compreensível. As declarações do senador Azeredo revelaram a lama tucana. Que a mídia e os políticos conservadores tentam ocultar aos brados de ''não é a mesma coisa''.