Anúncio de saída da Ford do Brasil expõe a face cruel de Bolsonaro

Desemprego

O anúncio de encerramento das atividades no Brasil da montadora Ford é mais um duro golpe na classe trabalhadora e na economia brasileira. Conta nessa questão a crise econômica global, que se arrasta desde 2007-2008 e não tem perspectiva de encerramento, além da pandemia da Covid-19, mas o fator mais determinante é a inação do governo. É evidente que numa situação como essa o mínimo que se espera é uma ação nacional para pelo menos minimizar os efeitos dessa combinação de crises.

O caso da Ford é emblemático, mas a destruição da economia, e com ela milhares de postos de trabalho e o desenvolvimento do país, se espalha por todos os lados. Os efeitos mais dramáticos, no imediato, são sociais, as consequências do desemprego. Um governo que não se mexe para combater esse drama, atualmente já em proporção gigantesca, não é digno de ser caracterizado como representante da nação. Num sentido realista, até mesmo a Constituição é violada no seu primado da ordem social.

O governo Bolsonaro ignora a premissa de que cabe ao Estado prover recursos para amenizar o drama social dos desempregados, em primeiro lugar, e, substancialmente, enfrentar as causas da crise. Essas duas frentes são emergenciais e deveriam estar entre os primeiros itens da pauta de prioridades do país. Com a perspectiva de agravamento da situação e de continuidade de imobilidade do governo, elas precisam estar em constante atenção por parte dos setores da sociedade comprometidos com a democracia e com o bem-estar da população.

Outro aspecto da crise que atinge o país de frente é o desenvolvimento. O abandono da economia produtiva pelo bolsonarismo afoga a indústria, setor essencial para o desenvolvimento nacional, um estímulo ao investimento estrangeiro e mesmo a empresários brasileiros a mover suas fábricas para outras paragens. A crônica regressão da estrutura industrial no Brasil é fator de atraso, inclusive social. O país fica fora da corrida pelo desenvolvimento tecnológico, fator decisivo para a soberania nacional.

Bolsonaro e sua política econômica contracionista, comandada pelo ministro da Economia Paulo Guedes, põe o país na contramão da tendência que dotou o Brasil de um parque industrial médio ao longo do século XX. O impulso se deu com a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, atingiu novo patamar no governo do presidente Juscelino Kubitschek com a indústria promotora da substituição de importações, mas a ideia surgiu no bojo do ideal republicano, enfatizada pelo segundo governo da República, do marechal Floriano Peixoto.

Os florianistas se consideravam, com razão, os revolucionários do novo regime. Foram eles que deram base para iniciativas como a tarifa protecionista de Rui Barbosa, seu ministro da Fazenda, para favorecer a fundação da indústria brasileira (taxava entre 45% e 60% cerca de 300 artigos de importação). E, segundo o historiador Pedro Calmon, chegaram a sonhar com a expulsão do capital estrangeiro do país. O recuo dos governos seguintes, retrato escandaloso da história de concessão de espaços aos setores atrasados na República, encontrou réplica enérgica na Revolução de 1930.

O governo Bolsonaro é a negação de toda essa história. O anúncio da saída da Ford do Brasil deve ser encarado nessa dimensão trágica. Decorre desse descaso que do ponto de vista do desenvolvimento nacional remete ao país ao pré-Revolução de 1930 e, pelo aspecto social, ao século XIX.

A precarização das relações de trabalho, a privação de grande parte dos direitos previdenciários – sobretudo a aposentadoria –, além de outras medidas regressivas, compõe, ao lado do desemprego, do descaso com a pandemia e da destruição da economia nacional, a face mais cruel do governo Bolsonaro. Impõe-se a necessidade de uma forte mobilização dos trabalhadores e dos segmentos empresariais preocupados com os rumos do desenvolvimento nacional. É preciso que o Brasil retome a trilha do desenvolvimento com geração de emprego e distribuição de renda.