China 51 ouros, EUA 36… e Brasil 3
Os Jogos Pequim encerraram, para além da dimensão de maior espetáculo esportivo da Terra, uma competição de fundo político e […]
Publicado 26/08/2008 11:09
Os Jogos Pequim encerraram, para além da dimensão de maior espetáculo esportivo da Terra, uma competição de fundo político e ideológico. Com o encerramento, no domingo , é possível aquilatar seu resultado, um notável êxito da China, como anfitriã e como campeã olímpica.
Todos viram o esforço que se mobilizou contra esse desfecho, acobertado pela ''causa tibetana''. Por onde a tocha olímpica passou, ''protestos'', às vezes de três pessoas, foram grotescamente hipertrofiados. Era o sinal de uma disputa que se travaria nos corações e mentes das 1,2 bilhão de pessoas que assistiram às Olimpíadas.
O resultado foi pressentido desde a cerimônia de abertura, concebida para não ser esquecida tão cedo, graças a imagens como o vôo do ginasta Li Ning ou a sincronia de 2008 tambores. Os Estados Unidos só a assistiram com 12 horas de atraso, pois assim decidiu a NBC, que comprou por US$ 900 milhões a transmissão exclusiva. Foi um prenúncio.
Ao longo dos jogos, a China sagrou-se como potência olímpica da atualidade, com 51 medalhas de ouro. Os EUA foram desbancados para o segundo lugar, com 36 – apesar dos fantásticos oito ouros do nadador Michael Phelps.
Nem um protesto, nem um incidente, nem uma rachadura na laca destas Olimpíadas serviu de prêmio de consolação aos desafetos da China. Mais de 30 mil jornalistas e repórteres fotográficos estrangeiros documentaram o orgulho chinês por seus atletas e seu país.
As maledicências foram se calando, algumas a contragosto. Ao fim, sobrou um imenso pasmo, tanto com a preformance dos chineses – que só estrearam nas Olimpíadas 24 anos atrás – como com prodígios tecnológicos como as piscinas do Cubo D'Água, que ajudaram a superar 23 recordes mundiais.
O Brasil conquistou três medalhas de ouro, duas a menos que nos Jogos de Atenas 2004. Mesmo com um total de 15 medalhas, igualando o recorde de Atlanta em 1996, caiu do 16º para 23º lugar em relação a Atenas. As mulheres salvaram a pátria, com dois ouros e um total de seis medalhas, contra dez medalhas femininas brasileiras em todas as Olimpíadas anteriores.
Este resultado atesta que uma potência olímpica se faz com numerosos ingredientes, desde a qualidade de vida do povo até uma política pública de esporte, inclusiva e pela base. Esta última foi implantada no Brasil há escassos seis anos, com a criação do Ministério do Esporte; reclama tempo para florescer e frutificar.
Um elemento estratégico nesta trajetória de longo prazo é a disputa da cidade do Rio de Janeiro, com Chicago, Madri e Tóquio, para sediar os Jogos de 2016. O exemplo de Pequim atesta o quanto isto pode significar.
O Rio concorre a 2016 como único representante de um imenso Sul do Mundo sócio-esportivo. A América do Sul, como a África e o Oriente Médio, jamais sediou uma Olimpíada. A anfitriã olímpica mais próxima dos cariocas – Cidade do México, 40 anos atrás – fica a 10 mil km de distância. É de justiça que os Jogos transitem também por estes meridianos pobres e sofridos, mas não menos humanos e igualmente merecedores de abrigar a chama do grande espetáculo olímpico da confraternização entre os povos.