Com Bolsonaro, o pão e a vida correm riscos

A aceleração do ritmo da pandemia do coronavírus, a Covid-19, no Brasil deveria servir de alerta para o governo federal. Os próximos dias prenunciam, de acordo com as autoridades no assunto, um cenário dramático, com o cruzamento de fatores como, além da doença em si, a precária infraestrutura na saúde e a ausência de políticas públicas para socorrer os que ficaram sem fonte de renda.

Em meio a esse prognóstico sombrio, o chefe do Estado, o presidente Jair Bolsonaro, faz questão de dar a sua contribuição para fomentar o caos. O povo deve ignorá-lo e ter a consciência de que, acima de tudo e de todos, deve estar a vida, seja ela inspirada no que for. Mas os danos que sua postura de incentivar perambulações pelas ruas na busca do “pão de cada dia”, conforme seu pronunciamento oficial do dia 8, são incalculáveis.

Sua incapacidade de governar contrasta com a sua capacidade de pronunciar tolices que, nessas circunstâncias, ganham conotação criminosas. Ele está simplesmente impondo, além da retórica irresponsável, condições para quem não tem onde se socorrer se arriscar numa espécie de roleta-russa para buscar o tal “pão de cada dia”, que deveria ser garantido pelo Estado, totalmente a serviço de urgências como essa.

O país, se não estivesse sob a condução de alguém que não tem apreço à vida e à civilidade, deveria estar em um ritmo frenético de providências para construir amparo médico aos atingidos pelo vírus, para garantir acesso universal aos gêneros de sobrevivência e para sustentar as estruturas da economia nacional. Deveria estar mobilizado para seguir à risca o tão falado isolamento social, a única arma verdadeiramente eficiente na guerra contra o vírus.

Só os obtusos e nefastos propõem como alternativa o caminho oposto ao recomendado por quem entende do assunto – em especial a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os cientistas que quebram a cabeça para buscar soluções que vão além do “pão de cada dia”. O mundo se assombra a cada dado registrado nessa escalada descontrolada da pandemia. E praticamente todos os países, ao olhar para os prognósticos, se acercam das medidas recomendadas.

Mesmo a China, que havia domado a velocidade da propagação da pandemia, manifesta receio de seu recrudescimento, dando passos com um olho na retomada de algumas atividades e outro nas estatísticas de contaminação. Outros países também seguem esse ritmo, pondo a cautela em primeiro plano. Essa precaução se justifica plenamente por conta dos ainda incipientes estudos sobre a Covid-19.

Mas é preciso olhar, também, para a ganância dos que se estruturaram à base do parasitismo rentista, em plena ascensão da pandemia. O noticiário econômico está recheado de informações dando conta de que a pretensão de alguns de impor seus interesses sobre os Estados nacionais segue plenamente ativa.

No Brasil, esse mantra de renúncia à soberania nacional continua presente no governo. A morosidade na adoção das medidas emergenciais aprovadas sobretudo pela ação altiva e ativa do Congresso Nacional é explicada, sem meias palavras, por essa concepção. Ou seja: antes de garantir a liquidez dos recursos inquestionavelmente inadiáveis, é preciso moldar a legislação criada para reger o absolutismo rentista.

Essa mesma premissa vale para outras iniciativas, fato que mostra a completa falta de interesse do governo em alterar sua gestão do Estado. Outro exemplo escancarado disso é a ofensiva, comandada por Bolsonaro e Paulo Guedes, para implodir o pacote para socorrer estados e municípios, costurado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com apoio de muitas bancadas e muitos parlamentares.