Construtores da nacionalidade

Há uma área da historiografia brasileira marcada por uma opinião negativa a respeito do país e nossa história, que vêem como relato de uma trajetória manchada pelo sangue derramado pelo povo.

 

Foi para se contrapor a esta visão negativista que o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB/SP) – ele próprio um profundo conhecedor da história do Brasil – inaugurou dia 27 a exposição permanente “Construtores do Brasil”, no gabinete da presidência da Câmara, com fotos e ilustrações de vinte e cinco heróis da nacionalidade. “O objetivo”, justificou, “é fazer com que os brasileiros de hoje olhem para o passado e reflitam sobre os valores que esses homens representam, como a independência e a liberdade do país e do povo brasileiro”. Homens e mulheres que contribuíram “em algum momento e em alguma esfera no esforço herdado de nossos antepassados europeus, indígenas e africanos para construir o Brasil”.

 

O critério para a escolha, disse, foi a participação “em assuntos de Estado, na conquista do território, na moldagem da Nação, nas questões institucionais e nas lutas políticas e sociais que forjaram o País”. Personagens da elite e do povo, homens e mulheres; negros, índios e europeus; de todos os séculos: três são do século XVI, quatro do século XVII, dois do século XVIII, treze do século XIX e três do século XX. Nomes que sintetizam, em sua simbologia, a luta de inúmeros outros heróis, anônimos ou não, dos trabalhadores, de progressistas, democratas e nacionalistas de outras camadas sociais, que colocaram os interesses do povo e da nação acima de seus próprios e fizeram da luta o seu apanágio.

 

A história do Brasil, como a de qualquer outra nação, resulta de inúmeras contradições, e é a solução encontrada para elas, em conflitos muitas vezes agudos, que define os traços nacionais e a forma de viver, conviver e compreender o mundo que caracteriza os brasileiros. Contradições representadas, nesta lista de vinte e cinco heróis, por alguns pares como o chefe militar Duque de Caxias e o revolucionário Frei Caneca; o bandeirante Raposo Tavares e o líder indígena Ajuricaba; a princesa Isabel, que assinou a Lei Áurea, e o líder do quilombo dos Palmares, Zumbi; o presidente Getúlio Vargas e o dirigente comunista Luís Carlos Prestes.

 

Além destes, a lista é formada por Almirante Tamandaré, herói da guerra do Paraguai; Anita Garibaldi, heroína de dois mundos, que lutou no Brasil e na Itália; Barão do Rio Branco, que negociou com outros países as fronteiras do Brasil; Bento Gonçalves, Chefe da Revolução Farroupilha; marechal Deodoro da Fonseca, que proclamou a República; Dom Pedro 1º, que proclamou a independência; o índio Filipe Camarão, que combateu os holandeses que ocuparam Pernambuco no século XVII; Floriano Peixoto, o marechal que consolidou a República; o negro Henrique Dias, que lutou contra a invasão holandesa; José Bonifácio de Andrada e Silva, o patriarca da Independência, e que pela primeira vez é homenageado oficialmente por uma instituição pública brasileira; o presidente Juscelino Kubitschek; Maria Quitéria, que se vestiu de homem para poder lutar pela independência; Padre Manuel da Nóbrega, um dos fundadores do Brasil; Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil; Plácido de Castro, que liderou a conquista do Acre; o cacique Tibiriçá, que participou da fundação da cidade de São Paulo; e Tiradentes, mártir da Independência.

 

É uma lista respeitável de homens e mulheres que representam o esforço e as contradições da construção do Brasil. Do qual resultou o povo brasileiro, que é uno embora com múltiplas expressões decorrentes das contribuições – também contraditórias e muitas vezes violenta – de tantos povos em sua formação. E que levou à formação da civilização nova que os brasileiros oferecem à humanidade, e de uma nação pujante que se encontra, hoje, entre as mais avançadas do planeta e busca um novo rumo de desenvolvimento para incorporar todos os brasileiros nos benefícios do progresso social, da cultura, da ciência e da arte.

 
A galeria de heróis da nacionalidade inaugurada por Aldo Rebelo pode se vista como uma síntese desta trajetória de cinco séculos dos brasileiros. Esta talvez seja sua contribuição mais relevante – a de despertar o orgulho dos brasileiros por seu país, seus heróis e sua história.