Direitos humanos, um biombo para os interesses dos EUA

O tema dos direitos humanos está entranhado com a ação dos EUA no mundo desde, pelo menos, a década de 1990. Foi quando sua defesa retórica passou a ser a bandeira, e o biombo, para ocultar a defesa dos interesses geopolíticos e empresariais dos EUA.

Desde o início do governo Clinton (em 1993), o aprofundamento do unilateralismo (que já vinha desde o governo anterior, de George Bush, pai) foi justificado pela defesa, da boca para fora, da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos – aquilo que muitos chamaram de 3D.

Democracia simboliza, nessa tríade, a repetição e imposição aos demais países de práticas políticas semelhantes às que ocorrem nos EUA; desenvolvimento tem o sentido liberdade de ação para as empresas norte-americanas nos mercados mundiais; direitos humanos significam sobretudo a livre ação política e midiática de grupos de oposição a governos nacionais resistentes às pressões dos EUA.

Esta é a tríade que se mantém desde então nos relatórios anuais do governo dos EUA sobre “direitos humanos” que, sob o véu de sua defesa, é fator de legitimação perante a população norte-americana das agressões imperialistas cometidas contra os povos de todos os continentes.

Os alvos são costumeiros e repetitivos – Cuba, China, Irã e demais desafetos do imperialismo, que aqueles relatórios rotulam de “transgressores” dos direitos humanos.

O relatório divulgado em abril não inova, nesse sentido. As acusações contra aqueles países “violadores” são um verdadeiro decalque dos relatórios anteriores.

A novidade é o reforço, que cresce ano a ano, da resistência contra a pressão dos EUA e a denúncia do hipócrita uso político dessa bandeira pelo imperialismo. O presidente do Poder Judicial do Irã, Sadeq Amoli Lariyani, destacou seu uso como instrumento de ingerência do imperialismo, que não pratica em seu próprio território as recomendações que tenta impor a outras nações.

A China, por sua vez, relatou as graves violações dos direitos humanos que ocorrem nos EUA, como a espionagem dos cidadãos norte-americanos, as discriminações contra mulheres, negros, latinos e outras etnias, a falta de controle sobre o uso de armas de fogo, e as agressões militares contra outros povos.

A Rússia criticou a politização da questão dos direitos humanos pelo governo dos EUA, em benefício de seus interesses geopolíticos, e a chancelaria russa repudiou “categoricamente este tipo de manipulação politizada de ideias".

Um contraponto às alegações do governo de Washington sobre os direitos humanos ocorreu na apresentação de Cuba no Exame Periódico Universal (EPU) no Conselho de Direitos Humanos da ONU, ocorrido nesta quinta-feira (2), em Genebra. A apresentação foi muito elogiada pela maioria dos mais de 130 representantes de nações presentes naquela apresentação e que, ao mesmo tempo, denunciaram o bloqueio contra Cuba, que já dura mais de meio século.

Cuba foi elogiada por avanços em saúde, educação e soberania alimentar, além de receber elogios pela lei de migração, conquistas no combate à opressão da mulher, avanços nos programas de reinserção social dos presos, entre outras questões. Nesta quinta-feira Cuba anunciou que aceitará visitas dos relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos da ONU, desde que em bases imparciais e não discriminatórias.

Naquela reunião, o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, apontou a "grande diferença entre defensores de direitos humanos e a ação dos agentes de potências estrangeiras", cuja ingerência Cuba repudia.

O lado concreto da resposta cubana contra as aleivosias do imperialismo pode ser expresso nos dados a respeito dos direitos humanos na Ilha. Ali não há pessoas desassistidas, crianças desamparadas, e Cuba tem a 16ª posição no índice de desenvolvimento educacional da Unesco.

É uma realidade que contrasta com as violações que ocorrem na base de Guantânamo, que os EUA mantêm no país, onde há 166 presos sem garantia de julgamento ou de defesa, submetidos a maus tratos e outras violações dos direitos humanos. É o retrato nítido da hipocrisia do relatório divulgado anualmente pelo governo dos EUA, com acusações contra nações que não rezam pela cartilha de Washington, mas resistem a ela.