Lula não tem o nome do sucessor

''Não tenho ainda o nome'', confessou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornalista Francisco Peregil, na entrevista publicada neste domingo pelo diário espanhol El País. A lacuna é um fato: no mesmo dia, O Estado de S. Paulo publicou pesquisa do instituto Ipsos para 2010. Mostra o governador tucano José Serra bem na frente para a sucessão presidencial, com 34%. Seguem-se Ciro Gomes (12%), Aécio Neves (10%) e Marta Suplicy (8%), Cesar Maia (3%) e Nelson Jobim (1%).



A confissão de Lula não significa indiferença. ''Eu quero trabalhar para que, em 2010, quem vier a ser candidato a presidente possa me convidar para subir com ele nos palanques. Quero contribuir na eleição de meu sucessor'', disse ele.



Não será uma contribuição qualquer. A pesquisa aponta Lula como o presidente que apóia os pobres (80%, contra 9% para seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso), aumentou o poder de compra (73% e 16%) e obteve a estabilidade da economia (67% a 7%).



(Um parêntese necessário: Carlos Marchi, autor do artigo do Estadão sobre a pesquisa, queixa-se neste último quesito de que ''a conquista da estabilidade ao longo do governo FHC se esvaiu da memória popular''. Na verdade, é a memória de Marchi que anda ruim. A inflação, medida pelo INPC, chegou a 12,53% no último ano de FHC, 2002, ou seja, o quádruplo dos 3,14% do ano passado.)



''Quando Lula apoiar alguém, esse candidato vai crescer'', assegurou ao jornal Alberto Carlos Almeida, diretor do Ipsos. A julgar pelo quadro atual, Lula será em 2010 um cabo eleitoral como não houve pelo menos desde o fim da ditadura.



A ausência de um nome e os números do Ipsos não tiram o sono presidencial. Muito pelo contrário: a mais de três anos da sucessão, incômodo para Lula – inelegível em 2010 – seria ter um ''sucessor natural'' desde já nos calcanhares, a dispersar as atenções. Mais ainda porque, como até na Espanha se sabe, Lula tem planos também para 2014.



Nos próximos três anos, o presidente e o arco de centro-esquerda que apóia seu governo terão tempo suficiente para achar ''o nome''.



Este poderá ou não ser um petista. O Planalto não por acaso influiu nos resultados do 3º Congresso do PT, no início deste mês, para conter os ímpetos da sigla da estrela no sentido de proclamar desde já o lançamento de um candidato presidencial próprio.



A base governista é grande e plural. Afora o PT, hoje com 81 deputados federais, comporta o PMDB, já com 93 deputados, e o Bloco de Edsquerda (PSB, PDT, PCdoB, PMN, PHS, PRB), com 77 deputados. Em termos de nomes, inclui o socialista Ciro, a petista Marta e o peemedebista Jobim, afora outros não citados na pesquisa, o que a 36 meses da eleição não chega a constituir um problema.



Tudo isso relativiza a dianteira de José Serra. Este enfrenta ainda a disputa intratucana com Aécio, e a proclamada intenção do DEM de ter seu próprio presidenciável, dois fatores alimentados pela noção de que Serra seria um triunfo do ''paulistismo''. A seu favor, conta com a mídia, e com a possibilidade de um ''fato novo'' que conforme os sábios da política é o único elemento capaz de suplantar o ''fato consumado''.