Lula, o Cara, e os desafios de 2010

O Brasil encerra a década com um otimismo só comparável ao que viveu na década de 1950, quando crescimento rimava com democracia. Previsões do final de ano, publicadas pela revista IstoÉ, dão conta de que o país vai crescer pelo menos 6% em 2010; no ano seguinte, pela primeira vez, a renda per capita poderá superar a marca dos 10 mil dólares (em 2009 foi é 7,9 mil, e pode ir a 10,9 mil em 2011), e em 2014 será a quinta maior economia do planeta, deixando para trás França e Inglaterra. "Nós vamos ultrapassá-las", garantiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O grande herói do crescimento são as chamadas classes D e E, o povão mais pobre que, mesmo com uma discreta melhoria na renda, fortalece o mercado interno e se transforma no motor que leva as empresas ao crescimento e, a reboque, puxa o fortalecimento da economia.

Esta combinação de crescimento fomentado pelo Estado com democracia (traduzida no aspecto fundamental da melhoria da renda) foi fórmula para o Brasil superar a grave crise econômica mundial e já em meados de 2009 voltar a crescer, terminando o ano na casa de um milhão de novos empregos formais.

É um feito extraordinário, que embasa os altos índices de aprovação popular ao presidente Lula e ao seu governo. E se reflete também no amplo reconhecimento internacional do presidente brasileiro, que levou nosso país a um protagonismo inédito no cenário mundial. A mídia brasileira e a oposição neoliberal, conservadora e de direita torcem o nariz mas, em tempos de internet, não conseguem esconder com seus pobres jornais e revistas aquilo que o mundo pensa.

As opiniões favoráveis pipocam por todo lado. O presidente dos EUA, Barack Obama, já havia chamado Lula de "o Cara". O jornal francês Le Monde deu ao presidente brasileiro o título de "homem do ano"; para o espanhol El País ele foi o "personagem íbero-americano de 2009"; o circunspecto Financial Times, oráculo britânico da alta finança mundial, colocou Lula entre as 50 personalidades que fizeram a face da década de 2000. O significativo é que, na lista do Financial Time, estão apenas oito chefes de Estado: além de Lula, fazem parte dela os presidentes dos EUA George W. Bush e Barack Obama; da China, Hu Jintao; do Irã, Mahmoud Ahmadinejad; e os primeiros ministros da Grâ-Bretanha, Tony Blair; da Alemanha, Angela Merkel; e da Rússia, Vladimir Putin. Não consta nenhum outro latino americano, ou brasileiro… Até a Al Jazira, a rede de TV do mundo árabe, destacou Lula como o "porta-voz do Terceiro Mundo", rendendo-se à sua "extraordinária popularidade".

A popularidade de Lula – e as homenagens a ele prestadas – refletem o novo papel que o Brasil desempenha no mundo. Como destaca o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, hoje o Brasil não pede licença a ninguém para defender seus interesses pelo mundo afora. Este talvez seja um dos segredos desse desempenho. Antes, o Brasil precisava de autorização de autoridades externas (de governos ou de agências como o FMI e o Banco Mundial) até para fazer investimentos necessários em sua própria infraestrutura. De dedo em riste, aquelas autoridades coloniais impunham regras e normas às quais o governo brasileiro se submetia, comprometendo a soberania nacional, desprezando a democracia, promovendo o sucateamento dos vários aspectos da vida nacional, com prejuízos dos quais o povo brasileiro ainda não se recuperou completamente.

De 2003 para cá isso mudou. Hoje o Brasil é cioso de sua soberania e das necessidades de seu povo e de sua economia, que defende em todos os fóruns e conferências internacionais, onde a diplomacia brasileira não reconhece mais nenhum alinhamento automático, e subalterno, com qualquer potência estrangeira.

Foi a eleição de Lula em 2002 que apontou para este rumo, ao abrir uma nova etapa para a vida nacional. "O governo Lula, apesar da sua dualidade original, conseguiu esboçar e iniciar um novo projeto nacional de desenvolvimento, que permitiu um crescimento mais acelerado desde 2007, superando rapidamente a grande crise capitalista 2008-2009 que atingiu todo o mundo", avalia o presidente nacional do Partido Comunista do Brasil Renato Rabelo. Ele tem razão. Há ainda muito a fazer, e o principal para isso é manter este rumo. É impedir que as forças neoliberais e conservadoras, adversárias da democracia e do desenvolvimento nacional, recuperem forças para tentar a volta para trás. Nesse sentido, 2010 – as eleições de 2010 – serão decisivas. Este é um ano que, como o de 2002, poderá ficar na história, trazendo a marca do ano em que a opção pelo desenvolvimento nacional foi reafirmada nas urnas pelo povo brasileiro.