Lula, o ''momento mágico'' e 2010

Os números da pesquisa do instituto Datafolha divulgada nesta segunda-feira (31) devem ser vistos em uma perspectiva mais ampla que o sobe-desce das preferências da opinião pública. Qual é mesmo o ''momento mágico'' que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva identifica, e faz seu governo ser hoje o melhor avaliado de 19 anos da série histórica do Datafolha?



É a conjugação de três fatores que sempre se desencontraram na trajetória brasileira: crescimento econômico; distribuição de renda; e um regime de liberdades democráticas relativamente estáveis.



O crescimento econômico já foi um ponto forte do Brasil, antes da crise e do desmonte do chamado modelo getulista, nos anos 80. Mas este modelo sempre foi concentrador de renda, e em política produziu ou ditaduras ou regimes democráticos frágeis e precários.



O governo Getúlio de 1951-1954 teve crescimento e democracia, mas esta viveu em uma sucessão de crises que culminou com o suicídio do presidente. E a renda se concentrou.



O governo JK (1956-1960) teve crescimento até maior e menos sobressaltos antidemocráticos (os ensaios golpistas de Jacareacanga e Aragarças). Foi porém um concentração de renda ainda pior.



Nos anos 70 o país viveu os seus maiores índices de expansão do PIB. Mas vigorava a mais truculenta ditadura da República, e o tirano Garrastazu Médici admitia que ''a economia vai bem mas o povo vai mal'', e recomendava que era preciso ''esperar o bolo crescer'' para depois repartí-lo.



A ditadura, que completa 44 anos neste 1º de abril, foi finalmente vencida. O Brasil iniciou, bem ou mal, o seu mais longo e estável período de liberdades democráticas. Porém a essa altura o crescimento getulista já pertencia ao passado. O país entrara nas décadas perdidas. Enquanto a distribuição da renda, após se agravar até 1980, congelou-se na iniquidade.



Com Lula, pela primeira vez, dá-se a conjugação e com ela o ''momento mágico''. É o que explica o notável saldo de 44 pontos  de popularidade (55% de ''bom'' e ''ótimo'' contra 11% de ''ruim'' e ''péssimo'') apurado pelo Datafolha.



A mesma pesquisa mostra, porém, o governador oposicionista José Serra como primeiro colocado nas simulações para a eleição presidencial de 2010, 16 pontos acima do candidato governista melhor colocado, que é Ciro Gomes, do PSB.



O ''momento mágico'' se produz em um governo que se ancora em um nome, Luiz Inácio Lula da Silva. O PT, que poderia constituir ou nuclear um protagonista coletivo deste feito, lamentavelmente patina na empreitada. E os projetos ancorados em nomes são mais frágeis – Getúlio que o diga.



Faltam três anos para 2010. Lula manifestou que trabalhará para fazer o sucessor, e para que seja um candidato de toda a base do governo. É um nobre projeto, e há tempo para ele. Será preciso inverter a tendência dos últimos tempos, que tem sido centrífuga, mas o resultado poderá ser uma conjugação virtuosa menos fugaz que um momento.