Meirelles, mais realista que o rei

Sob o comando de Henrique Meirelles, o Banco Central do Brasil divulgou uma ata do seu Copom (Comitê de Política Monetária) que é uma pérola do fundamentalismo e do terrorismo neoliberais. A ameaça de aumentar os juros não é apenas uma sabotagem da política econômica do governo, que finalmente consegue um início de aceleração econômica. É também o oposto do que se faz na meca da ortodoxia monetarista.



O Federal Reserve, ou Fed, o banco central dos Estados Unidos, às voltas com a crise imobiliário-financeira em agravamento, fez uma reunião de emergência neste domingo (16) para derrubar a taxa de juros, de 3,5% para 3,25%. A inflação americana está subindo e chegou no mês passado a 4% ao ano. Mas o Fed não seguiu a receita que o monetarismo made in USA prega para os outros. Pelo contrário: não vacilou em cortar ainda mais a taxa de juros que já era negativa em termos reais. É duvidoso se conseguirá uma volta por cima do Grande Enfermo que é a economia estadunidense, mas ao menos está tentando.



Meirelles, porém, acha-se mais realista que o rei. E só por anunciar que pode elevar a taxa selic na próxima reunião do Copom, em 16 de abril, puxou para cima os juros cobrados no mercado.



Pode-se alegar que isso não é novidade. Desde 1º de janeiro de 2003 o BC funciona como um bunker monetarista encravado no governo, como se o povo não tivesse eleito e reeleito o presidente Lula para mudar esse estado de coisas.



A novidade é que o bunker de Meirelles está se isolando a olhos vistos. Sua ata terrorista foi recebida com uma tempestade de reclamações, inclusive de figuras importantes do governo, como o Miguel Jorge (Desenvolvimento) e o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.



Meirelles e os seus fazem que não é com eles. Contam para isso com a independência informal que Lula optou por conceder ao BC (embora sem levar avante o projeto, caro aos ortodoxos, da independência ou autonomia formal).



O resultado é uma esquizofrenia que se aguça. Na administração federal o desenvolvimentismo vai se reforçando, e já vão longe, sem deixarem saudade, tempos de Antonio Palocci. Mas o bunker usa alegações supostamente técnicas para exacerbar a ortodoxia.  Esse comportamento cobra um alto preço ao Brasil, que poderia ter começado a crescer antes, e em taxas mais altas, a exemplo de outros países.



Meirelles tem pretensões políticas. Em 2002 chegou a se eleger deputado, pelo PSDB de Goiás, e em 2006 cogitou disputar o governo de seu estado. Portanto, devia saber que este é um caminho de alto risco. O bunker está sitiado. Pode cair – antes tarde do que nunca.