Netanyahu rosna, na ONU, contra o Irã

Deu o previsto: o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral da ONU, foi recheado de ameaças […]

Deu o previsto: o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Assembleia Geral da ONU, foi recheado de ameaças contra o Irã e da rejeição a qualquer iniciativa de paz no Oriente Médio.

Netanyahu tentou subir o tom e propôs o estabelecimento de uma “linha vermelha” para conter o projeto nuclear iraniano. Parodiando o Coelho, de Alice no País das Maravilhas, repetiu: "Está ficando tarde, muito tarde", para conter o Irã. Uma obsessão agressiva que se traduziu ainda em reclamações contra a campanha pelo reconhecimento do Estado da Palestina.

Netanyahu agitou o fantasma, adequado para as temerosas mentes conservadoras do Ocidente, de um Irã distribuindo armas nucleares a terroristas. Justificou com essas repetidas alegações absurdas o discurso agressivo que, mesmo dentro de seu governo, não encontra consenso absoluto mas enfrenta resistências de alguns setores, como ficou claro recentemente com o vazamento à imprensa de debates da intimidade da administração de Israel.

Mas ele insiste, ameaçador: "Diante de uma linha vermelha clara, o Irã cederá", assegura, dizendo que o "futuro do mundo está em jogo".

O governo de Teerã tem repetidas vezes garantido a finalidade pacífica de seu programa nuclear, embora Israel, Estados Unidos e União Europeia acusem o país do objetivo de construir um arsenal nuclear. Movem dura e ameaçadora campanha contra o Irã que só não se traduziu, ainda, em ações de agressão contra o país devido a alguns fatores. Entre eles a resistência de algumas grandes nações como Rússia, China e Brasil, e a própria e crescente capacidade militar (convencional) que o Irã vem demonstrando em sucessivos testes e manobras de treinamento.

Outro fator, que não pode ser desprezado, é o isolamento internacional de Israel, e de Netanyahu em particular. Isolamento sinalizado pela frieza com que foi tratado, nesta viagem a Nova York, por Barack Obama (que não abriu espaço na agenda para um encontro com ele) e, também, pela ovação com que o dirigente palestino Mahmud Abbas foi recebido ao discursar na Assembleia Geral e propor o reconhecimento da Palestina como Estado (não-membro) das Nações Unidas.

Netanyahu age como um brigão de rua disposto a distribuir ultimatos para atemorizar seus adversários. E recebeu, de certa forma, uma reprimenda pública do secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, que recentemente justificou sua oposição a um ultimato contra o Irã lembrando que chefes de Estado não agem dessa maneira, que pode voltar-se também contra o autor da ameaça.

A retórica dos EUA, a pouco mais de um mês antes da eleição presidencial de novembro que vai definir o destino do presidente Obama, tem sido ambígua ante um adversário com poder de fogo considerável e capacidade de reação cujos efeitos podem se espalhar pelo mundo. Um exemplo é a ameaça, real, de fechamento do estreito de Ormuz em consequência de um ataque ao Irã, e que poderá cavar ainda mais o buraco econômico em que os países ricos, sobretudo, estão medidos.

Mesmo assim, o discurso de Barack Obama, na terça-feira (25), na mesma Assembleia Geral que acaba de ouvir Netanyahu, também foi ameaçador. Embora tenha se oposto à imposição de um ultimato contra Teerã, Obama, que fez acenos ao mundo árabe, de certa forma antecipou o conteúdo do discurso do primeiro-ministro de Israel dizendo que o tempo para o Irã colaborar "não é ilimitado".

Os discursos na Assembleia Geral são feitos por chefes de Estado perante chefes de Estado, e constituem um termômetro da situação do mundo. Neste sentido, o pronunciamento do governante de Tel Aviv não inovou mas confirma uma disposição agressiva que, em defesa de sua própria política opressiva contra os palestinos e contra os povos do Oriente Médio, não recua ante a ameaça muito maior, a ameaça de um conflito armado generalizado que pode decorrer de um ataque contra o Irã.