Os efeitos destrutivos do câmbio

Apesar de o presidente Lula ter afirmado em sua recente entrevista coletiva que não está preocupado com a queda do dólar e que manterá o câmbio flutuante, crescem os temores no governo e na sociedade sobre os efeitos deletérios, imediatos e futuros, das políticas monetária e cambial adotadas pelo ortodoxo Banco Central. “[A queda do dólar] é boa para uns e ruim para outros”, despista Lula. Nesta semana, a moeda estadunidense despencou, ficando abaixo de R$ 2, a menor cotação dos últimos seis anos. No acumulado deste ano, ela já sofreu perdas de quase 9%, resultando numa supervalorização da moeda brasileira, o real.


 


De fato, aparentemente, a política cambial tem reflexos contraditórios, como insiste o presidente. Por um lado, a desvalorização do dólar faz, num primeiro momento, cair os preços de alguns produtos e serviços, como o dos eletroeletrônicos importados e das passagens aéreas, o que alivia o bolso dos consumidores – em especial, das camadas ricas e médias da sociedade. “As viagens para conhecer a Disneylândia, que foram esquecidas pela classe média por um tempo, voltaram a ficar em alta”, festeja o jornal Folha de S.Paulo. O “derretimento” do dólar também atrai capitais especulativos para o país, tanto que a Bolsa de Valores fechou em forte alta nestes dias, registrando novos recordes na sua pontuação.


 


Por outro lado, porém, a valorização artificial do real prejudica as exportações brasileiras e afeta toda a cadeia produtiva nacional. Setores industriais como dos têxteis, calçados e outros perdem competitividade no exterior – o que, em curto prazo, pode resultar no aumento da crise das empresas e conseqüentemente em aumento do desemprego. Além disso, a atual política cambial serve ao capital financeiro especulativo, que migra para o país em busca do lucro fácil proporcionado pelas mais altas taxas de juros do planeta. Pesando estes dois lados da “moeda”, fica a pergunta: a quem interessa esta política? O economista Paulo Nogueira Batista Jr., que hoje inclusive faz parte do governo, não vacila em afirmar que ela não serve aos interesses nacionais.


 


“Alguns consideram a queda do dólar inevitável ou bem-vinda. Afirma-se que ela reflete a situação internacional e a melhora dos ‘fundamentos’ da economia brasileira. Muitos lembram que o real forte ajuda a controlar a inflação… Esses argumentos têm alguma validade. Mas parece estar ficando cada vez mais claro que os custos da valorização excedem as suas vantagens”. Entre outras conseqüências nefastas, ele lembra que “a valorização persistente e crescente do real tende a provocar uma erosão gradual das contas externas”; “prejudica também o nível de atividade, especialmente no setor industrial”; “deprime a competitividade das exportações e estimula a substituição da produção nacional por importações”; e “estimula a migração de investimentos de empresas brasileiras para o exterior”. “Em resumo, estamos ativamente engajados na exportação de produção, investimentos e empregos para o exterior”.


 


Diante destes efeitos destrutivos, já pressentidos por vários setores da economia nacional, os ortodoxos do Banco Central afirmam que não há alternativa. Mas isto não é uma fatalidade. Paulo Nogueira lembra de três medidas que poderiam evitar o desastre futuro. “A primeira providência teria que ser uma aceleração do ritmo de queda dos juros. A taxa de juro no Brasil continua fora dos padrões internacionais e contribui poderosamente para impulsionar a valorização do real”. A segunda seria “evitar as metas ambiciosas de inflação e até flexibilizar alguns aspectos do regime de metas”. E, numa proposta ainda mais arrojada, o novo integrante do Ministério da Fazenda defende que “sempre existe a possibilidade de erguer barreiras tributárias e de outra natureza contra a entrada de capitais especulativos ou de curto prazo”.


 


Caso medidas como estas não sejam adotadas, a política cambial continuará sendo um forte entrave à aceleração do crescimento da economia e dificilmente o PAC conseguirá deslanchar.