Os EUA e as provocações japonesas contra a China

A tensão crescente entre Japão e China, envolvendo umas pequenas ilhotas rochosas localizadas no Mar da China, não pode ser […]

A tensão crescente entre Japão e China, envolvendo umas pequenas ilhotas rochosas localizadas no Mar da China, não pode ser encarada como casual. Nem como resultado de disputas já seculares, ou alimentadas pela recordação dos crimes de guerra cometidos pelo Japão em território chinês na década de 1930, que o povo chinês recorda todo dia 18 de setembro (o “dia da vergonha nacional”, que evoca o início da ocupação japonesa na Manchúria, em 1931).

Aquelas tensões, que tomam rumos perigosos, serão mais corretamente compreendidas se forem encaradas como um subproduto do rearranjo geopolítico que o mundo vive, particularmente desde o acirramento da crise econômica a partir de 2007/2008, que realçou o protagonismo chinês como a superpotência com capacidade financeira e militar para contrabalançar o unilateralismo dos EUA no mundo.

No início do ano o presidente Barack Obama anunciou uma nova orientação para a defesa dos EUA, mudando o foco de sua atenção da Europa e a ex-União Soviética (agora a Rússia) para a Ásia, sobretudo para a China (e, num outro plano, para o Irã). A previsão é de que 60% da força naval dos EUA estará voltada para a China em 2020.

Estavam criadas, dessa forma, as condições para a multiplicação de provocações contra o governo de Pequim. Não se trata de atribuir a Washington a inspiração para a atual aventura em que o Japão se meteu em relação às ilhas chamadas em chinês de Diaoyu e em japonês Senkaku.

Por enquanto não há sinais disso, embora o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, em visita ao Japão, à China e a outras nações asiáticas, tenha tido um comportamento no mínimo ambíguo. Depois de um encontro com Panetta em Tóquio, o ministro das Relações Exteriores do Japão, Koichiro Gemba, disse ter ouvido dele que um eventual ataque chinês às ilhas será encarado pelos EUA como uma ameaça à sua própria segurança (a informação é da rádio Voz da Rússia), cumprindo o tratado de defesa que mantém com o Japão desde 1960. Esta é uma ameaça que Panetta não desmentiu. Em Pequim, o secretário de Defesa dos EUA disse que seu país ficará neutro na disputa, torcendo por uma solução pacífica entre os governos de Tóquio e Pequim.

Mesmo assim, é preciso reconhecer que a nova doutrina de defesa do governo estadunidense pode ter o efeito de estimular provocações contra a China. E não pode causar surpresa que o governo conservador no Japão não possa ter visto, na atual situação, a oportunidade de investir contra a China com o objetivo de avançar sobre uma região do Mar da China com enorme potencial pesqueiro e cobiçados depósitos de petróleo e gás em águas profundas.

As provocações japonesas são crescentes e despertaram a revolta das massas na China, cujos protestos se multiplicaram nestes dias – há quem contabilize manifestações em mais de 80 cidades, entre elas Pequim e Xangai. Na semana passada, o governo japonês “comprou” (o governo chinês considera a operação uma farsa pois trata-se de um território historicamente chinês) as ilhas pela quantia de 20,5 milhões de euros, afrontando a soberania chinesa sobre elas. O pretexto foi a ameaça do governador nacionalista de Tóquio, Shintaro Ishihara, de comprá-las, tornando a crise ainda mais grave: na opinião dele o reconhecimento da soberania chinesa sobre as ilhas daria a hegemonia marítima da China na Ásia, uma situação que aquele político conservador considera ameaçadora para o Japão.

Dificuldades diplomáticas ou militares para os chineses devem soar como música aos ouvidos de Washington. Mesmo que elas possam significar o risco de mais tensão num mundo que, frequentemente, ronda a borda dos abismos provocados pela ação do imperialismo dos EUA.