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Bolsonaro agride a democracia. Basta!

O ato bolsonarista no domingo (3) em Brasília apresentou como ingrediente novo a violência aberta. Soma-se a outros eventos semelhantes […]

(Reprodução)

O ato bolsonarista no domingo (3) em Brasília apresentou como ingrediente novo a violência aberta. Soma-se a outros eventos semelhantes realizados no país nos últimos dias. Dessa vez, o alvo principal foi a imprensa, agredida com covarde violência pela milícia bolsonarista. Bolsonaro também objetiva gerar uma dispersão para o fato de que nesta semana há a previsão de um agravamento da pandemia do coronavírus.

A manifestação de caráter golpista é a das agressões de Bolsonaro à democracia.  Ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal (STF), expressam o caráter inegavelmente golpista. Se não bastasse isso, a gravidade do comportamento do presidente e de seus seguidores cresce com a apologia ao descumprimento do distanciamento social contra a Covid-19.

A ousadia de Bolsonaro ocorre em meio à perda de apoio nas camadas médias da sociedade, após o desembarque da ala lavajatista do seu governo, com a queda do ex-ministro da Justiça,  Sérgio Moro. O governo perde apoio também entre os grupos financeiros, que  vão tomando distância dele, reagindo à crise com ceticismo quanto à sua capacidade superar os problemas na economia, às portas de uma recessão, e de honrar os pagamentos referentes à dívida pública.

À medida que o governo perde força, crescem as ações contra seus crimes. Os inquéritos que tramitam no STF, referentes a fake news e aos atos antidemocráticos do bolsonarimso, além das denúncias de Sérgio Moro, vão acuando o seu governo.  Bolsonaro reage se movimentando para preservar o seu governo, tentando salvá-lo do colapso e até do impeachment. Com esse objetivo, ele faz basicamente três movimentos.

O primeiro se dá na esfera econômica, fazendo demagogia com a recessão e a quebradeira de empresas, prometendo emprego e salários para quem se arriscar no trabalho sem garantias de proteção à vida. Tenta se embandeirar da defesa de direitos dos trabalhadores que eles mesmo ajudou a suprimir. Sua pregação contra o isolamento social tem a ver com essa demagogia. Por isso, Bolsonaro faz essa contraposição entre emprego e distanciamento social.

A segunda esfera é a política, pagando um preço altíssimo para a cooptação de parcela do chamado “Centrão”. Barganha com ministérios e cargos no governo para tentar angariar apoio na Câmara dos Deputados e no Senado Federal  visando se salvar em caso de tramitação do impeachment.

O terceiro movimento se dá no âmbito da guerra de milícias nas redes digitais, a fonte da violência que vai para as ruas, como a do ato de domingo. Seu submundo digital segue a todo vapor.

Esses acontecimentos desenham um cenário para um possível impeachment. Mas não há condições, no momento, para se levar adiante um processo contra Bolsonaro no parlamento. É preciso um amadurecimento da ideia para que ela possa ter efetividade. Por outro lado, também, no imediato Bolsonaro não reúne forças para romper com o regime democrático. Esse relativo equilíbrio se dá em função da formação de amplas alianças sempre que ele avança de maneira mais brusca em direção à adoção aberta de um governo autoritário.

Muito disso se deve à frente ampla, agora em defesa da democracia e da vida. O ato que marcou o Dia Internacional dos Trabalhadores agrupou um amplo leque de forças em torno dessas bandeiras e demonstrou, mais uma vez, que é, sim, possível unir amplas setores com esse objetivo.

É claro que, mesmo em desvantagem, não é descartado que Bolsonaro, sentindo-se, acuado patrocine uma investida golpista. Por isto, ganha necessidade de urgência o desafio de dar formato e concretude à frente ampla.

Cumprem papel decisivo, para isso, o Congresso Nacional, o STF, a articulação dos governadores, um leque de partidos e lideranças que vai da esquerda até setores da direita, que devem assumir papel protagonista na contenção do autoritarismo e em favor  da economia nacional e da vida dos brasileiros. A vida tem mostrado que a defesa da democracia passa por esse caminho.

Também jogam papel decisivo setores da imprensa que refutam a conduta autoritária de Bolsonaro e o campo progressista, como os partidos políticos, as entidades representativas e os movimentos sindical e sociais.

Outro ponto de apoio fundamental, na evolução dos acontecimentos, é a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os crimes de Bolsonaro e as denúncias de Sérgio Moro. É uma exigência do momento. Além da defesa da democracia e da vida – as crises sanitária e política são variáveis em sintonia -, ela pode ajudar a repelir o golpismo.