UNE: juventude “que não foge à luta”

Começa hoje (4) em Brasília e se estende até dia 8, o 50º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Dele participarão mais de quatro mil delegados eleitos pelo voto de milhares estudantes em universidades e faculdades das 27 unidades da Federação. Por iniciativa do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), a UNE será homenageada pelo Senado Federal na passagem dos seus 70 aos. Essa atividade que se realiza hoje, às 14 h, marcará o início das atividades desse congresso estudantil.


 


De onde vem longevidade e a legitimidade da UNE? O que a fez percorrer setenta anos de história num país em que os movimentos do povo carecem de consolidação e mesmo os partidos políticos são frágeis?


 


No essencial, ao longo desse tempo, a UNE esteve do lado da liberdade, da democracia, da soberania do país e dos direitos do povo. Sempre a juventude entrelaçada com os destinos do Brasil. A juventude de mãos dadas com o povo— a parte mais intrépida dele. Assim, os estudantes nas avenidas bradaram contra o nazi-fascismo, estiveram na linha de frente da campanha o “Petróleo é Nosso” que resultou, na hoje, gigante Petrobrás. Nos “anos de chumbo” da Ditadura Militar, os estudantes foram fiéis aos versos do Hino Nacional: não fugiram à luta. Entre as vítimas do regime ditatorial de 64 é grande o número deles. (Haverá por isso na programação desse congresso, uma sessão especial da Comissão da Anistia que ao julgar alguns processos de ex-líderes estudantis, fará uma homenagem ao legado da UNE à causa democrática)
A UNE se reorganiza em 79 com a bandeira da Anistia nas mãos. Os operários do ABC paulista parando fábricas e enchendo estádios de futebol com a vibração da luta, e os estudantes pelas avenidas do país peitando as baionetas das tropas de um regime carcomido, mais ainda de pé. Era o começo do fim da ditadura. O acerto de contas entre a liberdade e o arbítrio. E a UNE lá no meio do redemoinho.


 


Os estudantes na campanha das Diretas-Já e adiante no movimento amplo que elegeu Tancredo. A participação na Constituinte de 88 com idéias e mobilizações. Nos anos 90, a presença da UNE na histórica resistência à avalanche neoliberal. Sua presença no Fórum Nacional de Lutas que agregou os partidos de esquerda e os movimentos sociais no enfrentamento ao desastre do governo Collor e ao reinado destrutivo de FHC. Os estudantes da UNE na longa jornada que veio eleger Lula em 2002.


 


Soube e sabe associar essa intensa presença das lutas políticas mais gerais do país com a realização das bandeiras da juventude estudantil. A principal é a universidade pública e gratuita como pilastra do Estado brasileiro e instituição indispensável ao desenvolvimento soberano do país. Outra bandeira é a defesa e a promoção da cultura brasileira. No passado, com o Centro Popular de Cultura, o CPC, e no presente com o CUCA (Centro Universitário de Cultura.)
Mas, embora que importante a presença política na história brasileira por si não seria o bastante para explicar os 70 anos de história da UNE. Outro fator destacado é o seu caráter unitário. Uma entidade do conjunto dos estudantes. Uma entidade que acolhe e extrai energia do pluralismo político e ideológico da universidade e da sociedade. Se em muitos espaços a disputa de idéias desagrega, na UNE o pluralismo tem sido uma das razões principais de sua força.
Mas, para isso é preciso ciência e arte para garantir a democracia interna da entidade, o respeito aos seus fóruns de decisão. Apenas um exemplo disso. Hoje, a força política hegemônica no âmbito da UNE é a União da Juventude Socialista (UJS). E mesmo sendo maioria, na composição da diretoria executiva da entidade a UJS é minoria.


 


A UNE tem uma tradição de oferecer respaldo político a governos patrióticos e democráticos, contudo sem perder sua independência e autonomia, jamais. É o que acontece hoje em relação ao governo Lula.


 


No ano passado, quando a direita neoliberal com o auxílio de setores míopes da esquerda tentou cassar o mandato legítimo do presidente Lula por meios ilegítimos, Gustavo Petta e seus companheiros e companheiras de diretoria da UNE, não tiveram dúvida. A UNE se opôs a manobra golpista e defendeu o mandato democrático do presidente.


 


Por outro lado, nesse Congresso, a UNE “elevará o tom” de sua crítica à política econômica do governo Lula. Como simbologia de seu repúdio à política de juros altos e superávit primário elevado a entidade já lançou seu brado de “Fora Meirelles”. E contra isso realizará no próximo dia 6 um protesto na porta do Banco Central.


 


A mídia porta-voz do conservadorismo e da direita a chama de “a velha UNE”. Incomoda ao conservadorismo que exista no país uma juventude que no decorrer de 70 anos provou que leva a sério o verso Hino: “Verás que um filho teu não foge à luta.”.



Para o espanto e descontentamento da direita e inveja dum punhado equivocado da esquerda que a deixou, quando os sete mil estudantes que são esperados em Brasília gritarem uma vez mais o seu refrão histórico “A UNE é nossa força e nossa voz”, se verá que ela permanece jovem aos 70 anos. Fato que também pode ser aferido nas declarações da diretora de Relações Internacionais da UNE, Lúcia Stumpf: “Já está mais do que na hora dos estudantes e dos outros movimentos subirem o tom em relação à política econômica do governo federal. Estamos prontos para ir às últimas conseqüências pela retirada de Henrique Meirelles do Banco Central”, avisa.