Venezuela no Mercosul – três derrotas da direita

Foi uma tarde memorável. Depois de três horas e meia de debates e três derrotas consecutivas da oposição neoliberal, a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou ontem (dia 29) a entrada da Venezuela no Mercosul. O próximo passo será, agora, a aprovação pelo Senado; com ela, o Brasil junta-se à Argentina e Uruguai, que já aprovaram a adesão, faltando apenas o previsível sim do Paraguai.

A primeira derrota oposicionista foi a rejeição, pela comissão do parecer contrário à Venezuela elaborado pelo relator da matéria, o cardeal tucano Tasso Jereissati (PSDB-CE) – ele perdeu por 11 votos a seis e uma abstenção. A outra derrota foi a tentativa do emplumado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) de aprovar o envio de uma delegação de senadores à Venezuela, proposta pelo senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), para averiguar denúncias de desrespeito aos direitos humanos feitas pela oposição ao presidente Hugo Chávez – perderam outra vez, por 10 a 8. Finalmente, a terceira derrota foi a aprovação, pela Comissão, do relatório substitutivo apresentado pelo senador Romero Jucá, líder do governo, acatando o ingresso imediato e incondicional da Venezuela no Mercosul – o relatório de Jucá teve 12 votos, contra cinco dados por senadores do PSDB e do DEM.

Jucá defendeu o argumento de que não se defende, nem se amplia, a democracia isolando-se uma nação. “Se existem problemas e disputas, o remédio é abertura, mediação internacional e o Brasil ajudar nos entendimentos políticos”, disse ele.

Outro argumento forte que ajudou a derrotar a resistência tucana foi o florescente comércio entre Venezuela e Brasil, que tem a perspectiva de crescer ainda mais. Em 2008, segundo o Itamaraty, passou de 5 bilhões de dólares. O governador do Paraná, Roberto Requião enfatiza isso quando diz que “todo mundo que comer um frango na Venezuela está comendo um frango paranaense”. Só com o Paraná as trocas comerciais com o grande vizinho deixaram em 2008 o saldo positivo de 388,4 milhões de reais em 2008 – e o faturamento com os frangos, de 185,3 milhões, representa 48% desse total. Hoje, a Venezuela importa quase 70% de tudo o que consome, e a origem de boa parte disso é a Colômbia, de quem importa todo ano mais de sete bilhões de dólares em mercadorias. Com a adesão ao Mercosul, a indústria brasileira terá condições de absorver boa parte dessas exportações.

Finalmente, pesou na balança a importância da integração da América do Sul, fortalecida com a criação de uma área geográfica contínua, que vai do extremo sul do continente, com a Argentina, ao litoral caribenho, com a Venezuela, e que tem a importância geopolítica fundamental de incrementar a soberania e a autonomia da região frente ao imperialismo dos EUA. Integração que se dá com o respeito à independência nacional de cada um dos parceiros, sinalizada no princípio da não intervenção, que é uma espécie de dogma benigno da diplomacia brasileira, e do qual a oposição de direita não se cansa de reclamar.