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Brasigóis Felício: Guerrilha do Araguaia

*

(Lavoura de ossos)


  


Nos anos de chumbo


passou como um raio


pelo bico do papagaio


a peste da morte.


 


 


Em Xambioá


luta não há:


os deserdados da sorte


continuam ao deus dará.


 


 


O medo cresce de outro jeito


onde o abandono humano


hoje é tecnotrágico.


 


 


Há uma lavoura de ossos


no chão de Xambioá.


 


 


Os que não viajaram


na noite perigosa


da selva selvagem


não podem julgar


se valeu a pena


não ter a alma pequena.


 


 


Iludidos ou românticos


entre delírios e esperanças vãs


eles acreditaram poder resgatar


a dimensão do humanismo.


 


 


Quem, no ar refrigerado


de seu escritório


pode avaliar a chama


que incendiou o peito deles?


 


II


 


Por onde se cave


em busca de corpos,


bala de fuzil


e o que se encontra


no chão nordestinado.


 


 


Não saem os mortos, aos gritos


do pesado silêncio


em que se acham.


 


 


Com água e sal


eram tratados os prisioneiros


que eram atirados em buracos


antes de serem fuzilados


para depois serem queimados


junto a pneus.


 


 


Eis como brasileiros


mataram brasileiros


em guerra de extermínio:


não com braçadas de rosas,


mas com saraivadas de balas


e ódio mortífero.