Com enredos fortes, Carnaval de Santos é definido nos critérios de desempate

Unidos dos Morros, sobre as lendas da caiçara Peruíbe, e União Imperial, com homenagens a personalidades negras como Djamila Ribeiro, cravaram 269,7 pontos; escola da cidade alta ficou com o título

Filósofa Djamila Ribeiro, homenageada e presente no desfile da União Imperial. Montagem sobre fotos de seu perfil no Instagram

Terminada a segunda noite de desfiles das escolas de samba de Santos, já na madrugada do último domingo, dia 4, e era consenso entre boa parte do público que três agremiações se credenciavam ao título: Unidos dos Morros, União Imperial e Amazonense. Não deu outra: os envelopes com as notas dos jurados reveleram, na apuração realizada nesta terça-feira, dia 6, uma disputa décimo a décimo, entre elas.

Ao final, Unidos dos Morros e União Imperial terminaram empatadas: 269,7 pontos cada uma. O desempate veio no primeiro critério: a maior pontuação na soma de todas as notas, incluindo as descartadas. Deu, então, a escola da cidade alta. Pelo terceiro Carnaval consecutivo (2020, 2023 e 2024 – em 2021 e 2022, por causa da pandemia, não houve desfiles), a Unidos dos Morros levanta o troféu.

A agremiação levou à Passarela do Samba Dráuzio da Cruz as lendas da cidade caiçara de Peruíbe. Nem a ausência do intérprete oficial Ito Melodia (também da Unidos da Tijuca, Rio de Janeiro), que não pôde comparecer, afetou a harmonia e a evolução dos desfilantes da Unidos dos Morros. A escola se sobressaiu também no luxo das fantasias e alegorias e adereços. A apresentação primou pela técnica, plástica e estética, temperadas pelo engajamento de sua comunidade, na avenida.

Trata-se do famoso “chão” de escola de samba, igualmente ponto forte da União Imperal. A verde-e-rosa do Marapé homenageou, no enredo “Azeviche, a ascensão áurea da cor”, personalidades negras da história de Santos.

Djamila Ribeiro, presente no desfile; Alzira Rufino (1949-2023, fundadora da Casa da Cultura da Mulher Negra de Santos); Quintino de Lacerda (1839-1898; líder quilombola); Pai Felipe (líder quilombola contemporâneo de Quintino de Lacerda); Esmeraldo Tarquínio Filho (1927-1982, prefeito eleito impedido de tomar posse pela ditadura) estiveram entre as figuras reverenciadas. O belo samba-enredo, co-interpretado por Gilsinho (Portela) e Chitão Martins, e a imponência do abre-alas também marcaram a jornada da União Imperial neste ano.

Casamento entre Lampião e Maria Bonita

Já a Amazonense – que chegou a liderar a apuração por um instante – fez bonito ao promover na avenida o casamento entre Lampião e Maria Bonita. A comissão de frente representou esse evento fictício, com direito a beija na boca e tudo entre os dois personagens – momento que levou o público ao delírio. A escola de Vicente de Carvalho foi a que teve o samba-enredo mais cantado na Dráuzio da Cruz, a ponto de a bateria arriscar paradinhas e apagões e ser correspondida pelo coro dos desfilantes e espectadores. Alegorias bem acabadas (em especial o abre-alas) e fantasias realçavam elementos da identidade do povo nordestino.

Por outro lado, a tradicional Brasil, do BNH, com 266,9 pontos ficou na última colocação, sendo, com a Unidos da Zona Noroeste, rebaixada ao grupo de acesso. Para se ter uma ideia do tamanho da Brasil, basta citar dois fatos. Um: a escola santista já foi campeã na cidade de São Paulo, e em um dos desfiles mais importantes da história, o do ano de 1954, que celebrou o quarto centenário da cidade. Outro: a escola é a segunda maior em número de títulos no Carnaval de Santos, 11 no total, sendo oito deles seguidos – de 1956 a 1962, razão pela qual é chamada de A Campeoníssima.

“Meu nome é favela”

A maior detentora de conquistas, a X-9 (são 19 títulos), do Macuco, terminou a apuração aliviada. A Pioneira, como é conhecida por ser a mais antiga do litoral paulista e uma das mais antigas do Brasil (completa 80 anos em 2024), estourou o tempo limite de desfile, por dificuldades em colocar alegoria na pista. A agremiação seria punida com a perda de 1,5 ponto; contudo, recorreu. Por seis votos a três, a Liga das Escolas de Samba de Santos acatou o recurso. Mesmo sem a punição, a escola terminou em quinto, pois o problema com o carro alegórico afetou a apresentação e, desse modo, repercutiu em quesitos.

Do contrário, pela densidade do enredo (“Meu nome é favela”) e do samba, co-interpretado por Emérson Dias (Salgueiro), Bolinha e MC Bola, e pela força do “chão”, quem acompanhou in loco a exibição da X-9 diz que, não fosse o imprevisto, provavelmente o título deste ano ficaria com ela.

Muita gente cravou também que a Bandeirantes do Saboó ficaria em primeiro no grupo de acesso, e as notas confirmaram a percepção do público. Com isso, a escola voltará em 2025 ao grupo especial. O ascenso foi merecido. Discorrendo sobre a magia dos doces, a agremiação fez um animado e envolvente desfile.

Confira a classificação dos desfiles das escolas de samba de Santos, Carnaval 2024:

GRUPO ESPECIAL

Unidos dos Morros – 269,7

União Imperial – 269,7

Amazonense – 269,2

Independência – 269

X-9 – 269

Sangue Jovem – 268,4

Real Mocidade – 267,8

Unidos da Zona Noroeste – 267,7

Brasil – 266,9

GRUPO DE ACESSO

Bandeirantes do Saboó – 268,5  

Dragões do Castelo – 267,7

Vila Mathias – 267,4

Padre Paulo – 267,2

Império da Vila – 266,8

Imperatriz Alvinegra – 258,2

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