Publicado 02/12/2021 08:11
Li outro dia a história de uma moça que foi agredida no Centro de Fortaleza por ter sido confundida com uma mulher trans. Ela havia perdido os cabelos por conta da quimioterapia com que tenta debelar um câncer. Isso me lembrou a história da empregada que foi espancada num ponto de ônibus na Barra por ter sido confundida com uma prostituta. O que me lembrou dos irmãos gêmeos que foram massacrados por terem sido confundidos com amantes homossexuais (um deles morreu). O que me trouxe à memória o pai e o filho que apanharam muito por terem sido confundidos com um casal gay.
Fico imaginando a reação que a situação mostrada na foto abaixo causaria por aqui. Tirada em 1967 pelo fotógrafo Rocco Morabito, a imagem mostra o eletricista (?) J.D. Thompson fazendo respiração boca-a-boca no colega Randall G. Champion, que havia desmaiado após tocar num fio de baixa tensão em Jacksonville, Flórida. O rapaz insistiu na ressuscitação até sentir um pouco de pulso. Então, desamarrou Champion do equipamento de segurança, desceu com ele pendurado no ombro e, com outro colega, fez massagem cardíaca até a chegada dos paramédicos. Champion viveu por mais 34 anos.
A foto, chamada “O beijo da vida”, recebeu o prêmio Pullitzer de 1968. Foi tirada por acaso, por sorte (do fotógrafo, obviamente). Morabito seguia pela estrada quando viu os homens trabalhando no poste. Pensou que poderia fotografá-los na volta, mas ouviu gritos. Quando olhou para trás, viu um dos caras pendurado. Resolveu parar e fotografar. O resultado foi a foto famosa e um dos prêmios mais importantes do jornalismo mundial.
No Brasil rasteiro, trevoso, pequeno e vulgar de hoje, Thompson e Champion correriam o risco de serem “confundidos” com duas “bichonas” e morrerem apedrejados. (O primeiro que disser “Não é bem assim” ganha um ingresso para a próxima palestra do Olavo de Carvalho.)
Às vezes as coisas não são o que pensamos ser e se forem e não fizer mal a ninguém, qual o problema?