Papa cita poeta Thiago de Mello em exortação sobre Amazônia

Texto foi uma resposta de Francisco ao Sínodo da Amazônia e destacou poetas populares

O Sínodo da Amazônia – encontro de bispos realizado pela Igreja Católica de 6 e 27 de outubro passado, no Vaticano – inspirou a mais nova “exortação apostólica” do papa Francisco. Trata-se do documento Querida Amazônia, que foi divulgada em 2 de fevereiro passado e é dirigido “ao povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade”.

Em vários trechos da exortação, Francisco destaca escritores, como o poeta brasileiro Thiago de Mello, que usaram como tema o Rio Amazonas. “Embora seja verdade que, neste território, há muitas ‘Amazônias’, seu eixo principal é o grande rio, filho de muitos rios”, afirma Francisco.

Segundo o papa, “os poetas populares, enamorados da sua imensa beleza, procuraram expressar o que este rio lhes fazia sentir e a vida que ele oferece à sua passagem, com uma dança de delfins, anacondas, árvores e canoas. Mas lamentam também os perigos que a ameaçam. Estes poetas, contemplativos e proféticos, ajudam a libertar-nos do paradigma tecnocrático e consumista que sufoca a natureza e nos deixa sem uma existência verdadeiramente digna”.

No caso de Thiago de Mello, Francisco cita Amazônia, Pátria das Águas, que foi escrito especialmente para o livro Amazônia (1978, Editora Práxis), mas acabou censurado pela ditadura militar (1964-1985). Confira abaixo os trechos do texto do poeta amazonense evocados pelo papa:

“Da altura extrema da cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende, e traça trêmula um risco na pele antiga da pedra: o Amazonas acaba de nascer. A cada instante ele nasce. Desce devagar, para crescer no chão. Varando verdes, faz o seu caminho e se acrescenta. Águas subterrâneas afloram para abraçar-se com a água que desceu dos Andes. De mais alto ainda, desce a água celeste. Reunidas elas avançam, multiplicadas em infinitos caminhos, banhando a imensa planície”

“É a Grande Amazônia, toda ela no trópico úmido, com a sua floresta compacta e atordoante, onde ainda palpita, intocada pelo homem, a vida que se foi urdindo nas intimidades da água”

“Desde que o homem a habita, ergue-se das funduras das suas águas e dos altos centros de sua floresta um terrível temor: a de que essa vida esteja, devagarinho, tomando o rumo do fim”

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *