Recebi tua cartinha
Fiquei um pouco pateta
Por você ser um poeta
Que vem de origem minha
Mas falo sem fantasia
Eu ainda não conhecia
Esta regra em sete linhas
Sua bênção mãe querida
Como é que está a senhora?
Este filho que te adora
Está com a alma ferida
Porque a saudade é grande
Do meu peito se expande
Entristece minha vida
Joan, meu prezado irmão
Não pense que me intimida
Pois por essa minha vida
Já fiz muita confusão
Cantei em muito torrão
Ganhei de bons violeiros
Nunca fui dos derradeiros
Todos ficaram pra trás
Esmagalhei Ferrabrás
E derrotei Oliveiros
Idalzira o meu bom dia
Receba com atenção
Pois mando com educação
Não me falta cortesia
Não uso minha poesia
Para dizer desaforo
Não perco nunca o decoro
Com aqueles que tenho afeto
Não acho muito correto
Alguém me tirar o couro
Joan Edesson cadê você
Aquele filho leal
Que não esquecia o Cedro
Este seu torrão natal
Que não escreve uma linha
Pra saber notícia minha
Se estou bem, se estou mal
Joan não me insulte mais
Com sua carta rimada
Pois eu já estou lesada
Deixei as rimas pra trás
Você que é um jovem rapaz
Tem o mundo pela frente
Comigo é diferente
Vivo nesta nostalgia
Só tenho de companhia
Aqueles dois inocente
Volto a pegar no papel
Pra mais uma vez escrever
Tentar assim combater
Esta saudade cruel
Que amarga como fel
Corrói o peito da gente
Dá uma dor tão pungente
Que quase eu dou razão
A quem mata a solidão
Em um copo de aguardente
Não chore minha mãezinha
Pois eu estou regressando
Domingo estarei chegando
Em nossa cidadezinha
É grande a alegria minha
Por rever nossa cidade
Maior é a felicidade
De outra vez lhe abraçar
Poder lhe reencontrar
E matar minha saudade
O livro traz 20 anos de cartas trocadas por mãe e filhos.
Glosa:
“Feliz é aquele que canta
Pra seus males espantar
Triste é aquele que chora
Pras mágoas desabafar”
Quem anda cego de amor
Não sabe se é noite ou dia
Glosa:
“Quem canta refresca a alma
Cantar adoça o sofrer
Quem canta zomba da morte
Cantar ajuda a viver”