Sei que muito bom seria
Se nós pudéssemos viver
No mais completo prazer
Na mais repleta alegria
Eu de casa não saía
Não deixava o meu sertão
Pra viver na solidão
Neste lugar tão pacato
Dê lembranças ao seu gato
E um abraço em seu cancão
Minha casa era hospedagem
Dos que moravam por fora
Homem, criança e senhora
Faziam camaradagem
Todos fizeram viagem
Em busca de outro torrão
Deixando meu coração
Cheio de saudades somente
De uma casa cheia de gente
Só resta um gato e um cancão
Já vi muito casamento
Às pressas realizado
O casal aperreado
Para chegar o momento
De prestar seu juramento
Perante o padre e o juiz
De viver sempre feliz
E ir gozar sua vida
Seja em Roma ou Aparecida
Cedro, Icó ou Paris
Erivan, se é poeta
Me responda sem demora
Qual o nome da senhora
De Abraão, o profeta
O que são Alfa e Beta
Se estrela ou constelação
O nome do campeão
Do mundial de setenta
Tire o cabelo da venta
E responda com precisão
Mãinha, o meu bom dia
Como está a senhora
Resolvi lhe escrever
E o faço nesta hora
Não me deixe sem notícias
Me responda sem demora
Glosa:
“Sou filho de Idalzira
Trago no sangue a poesia
Meu avô foi bom poeta
De grande sabedoria”
Glosa:
“Eu vivo nesta cidade
Para cumprir minha sina
Nunca gozei nesta vida
Pois sofri desde menina”
Aqui a vida é diferente
Da vida do meu sertão
Que às vezes de repente
Me aperta o coração
Sufocado de saudade
Pensando em minha cidade
No vale do rio Salgado
Eu aqui nesse lugar
Não posso nem comparar
Com meu solo abençoado
Erivan, cabra invejoso
Repentista malcriado
Poetinha rancoroso
Magrelo desaforado
Nem os mais velhos respeita
Numa atitude suspeita
E cheia de prepotência
Onde foi que aprendeu
Querer cantar mais que eu,
Poeta sem experiência
Fiquei muito envergonhado
Com o seu papel tão feio
Ter que pedir emprestado
A rima e o verso alheio
Ao menos se alugasse
Um poeta que prestasse
Que tivesse bom repente
Mas logo esse rapaz
Que de tanto comer demais
Já ficou até doente
Meu caro e prezado irmão
Eu tomei a liberdade
De responder esta tarde
A sua declaração
Nosso querido torrão
Está em desenvolvimento
Já tem até calçamento
Que o nosso alcaide fez
Nosso Cedro dessa vez
Não fica no esquecimento
Bom dia, mamãe querida
Receba meu forte abraço
Aqui o possível eu faço
Para levar minha vida
Que é uma coisa rotineira
Muito trabalho e canseira
E uma grande saudade
Dos que aí eu deixei
E que todos, eu bem sei
Me têm sincera amizade