Os acontecimentos de 21 e 22 de junho no Paraguai, que levaram à ruína do governo do presidente constitucional Fernando Lugo, ficarão como outro capítulo nefasto da história republicana do pequeno país sul-americano e da América Latina.
As mobilizações em Assunção e em todo o Paraguai contra o golpe comandado por Federico Franco são crescentes. Os manifestantes consideram que o dito governo é ilegítimo por ter aplicado um golpe de Estado no ex-presidente Fernando Lugo, mesma posição adotada por países latino-americanos. Nesta quarta-feira (27), estão previstas diversas mobilizações em bairros no centro da cidade e no interior.
Por Vanessa Silva, enviada especial do Vermelho a Assunção, e Marilu Cabañas*
A posição dos organismos internacionais sobre a crise no Paraguai é vista pelos setores de esquerda no país como uma das formas de restituir a ordem democrática frente ao golpe parlamentar sofrido pelo ex-presidente Fernando Lugo na última sexta-feira (22). Nesta terça-feira (26) e quarta (27), a Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou reuniões extraordinárias para tratar o assunto. Unasul e Mercosul se reunirão sexta-feira (29) com o mesmo objetivo.
Nesta quarta-feira (27), às 10h, movimentos sociais, entidades da sociedade civil e parlamentares brasileiros se reunirão com o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota. O encontro será no salão Rui Barbosa, no Itamaraty, em Brasília.
Os golpistas do Paraguai, apoiados pela mídia de lá e de cá, estão desesperados com a possibilidade do Mercosul adotar medidas mais duras em defesa da democracia na América do Sul. A reunião dos países membros começa na quinta-feira (28), em Mendoza, na Argentina. Ele discutirá as sanções previstas nos protocolos deste organismo de integração sul-americana.
Por Altamiro Borges
Só ingênuos podem admitir que o golpe parlamentar que destituiu o presidente Lugo do Paraguai, não tem o dedo do Pentágono. Essa nova modalidade de golpe, inaugurada em Honduras em 2009, que destituiu o presidente Zelaya, articulada na base aérea que os Estados Unidos mantém naquele país centro-americano, teria sido mais uma vez aplicada com sucesso, ao menos, por enquanto.
Por Flávio Lyra, via Agência Alba Notícias
Nesta manhã de terça-feira (26), trabalhadores e trabalhadoras da Secretaria de Ação Social (SAS) realizaram um de ato de protesto na recepção ao novo ministro Víctor Rivarola, do governo golpista de Federico Franco, cantando: “Rivarola, Rivarola, viemos te receber; os trabalhadores, unidos, não deixarão de resistir”. Também apresentaram cartazes de repúdio aos usurpadores do poder por meio de golpe parlamentar.
Cuba anunciou nesta terça (26) a retirada de sua representação diplomática do Paraguai. A chancelaria da ilha informou que não reconhece o governo instaurado após um golpe de Estado parlamentar contra o presidente Fernando Lugo. Na véspera, o cubano Raúl Castro já havia afirmado que os golpes de Estado voltaram à América Latina, mas "disfarçados", e que os últimos eventos no continente não o surpreendem.
O presidente paraguaio destituído na última sexta-feira (22), Fernando Lugo, afirmou nesta terça-feira (26), em entrevista à rede Telesur, que a partir da semana que vem percorrerá todo o Paraguai para esclarecer o que ocorreu durante o processo de julgamento político. Segundo ele, atualmente, há dois governos no país: um legítimo, eleito pelo povo, e um ilegítimo, responsável pelo golpe de Estado parlamentar.
A resposta a essa pergunta pode ser dada de bate-pronto: nenhuma. Ao menos no que diz respeito à sua natureza política. Nos dois casos, a derrocada de um presidente constitucional ocorreu através de processo sumário e operado pela via das instituições.
Por Breno Altman, em Opera Mundi
A história política do Paraguai é marcada por avanços e recuos, além de uma das ditaduras mais longas das Américas, a comandada pelo general Alfredo Stroessner – que durou 34 anos, acabando em 1988. Em 2008, o país elegeu o ex-bispo Fernando Lugo, que prometeu reforma agrária e melhorias sociais. Com o impeachment de Lugo na última sexta-feira (22), o quadro de incertezas predomina no país a dez meses das eleições gerais.
Desde 2009, a diplomacia norte-americana tinha conhecimento da existência de uma articulação política no Paraguai entre o general Lino Oviedo, apontado como o responsável por tentar um golpe de Estado em 1996, e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos para destituir Fernando Lugo da Presidência. As condições, no entanto, ainda não eram ideais. É o que afirma um comunicado da embaixada norte-americana em Assunção divulgado pelo site Wikileaks em agosto de 2011.