Sem essa de areia de cemitério II – Messias Pontes
Na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados qual dois candidatos é melhor para o novo projeto político iniciado em 2003 – amplamente ratificado pela ampla maioria dos brasileiros em outubro passado – e para a própria instituição.
Publicado 17/01/2007 16:36 | Editado 04/03/2020 16:37
A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados vem ganhando contornos inimagináveis para aqueles que têm a consciência do real valor de um governo de coalizão, notadamente depois da desleal campanha encetada pela direita e pela mídia a seu serviço nos dois últimos anos. As duas candidaturas postas, a do atual presidente Aldo Rebelo, do PCdoB, e a do petista Arlindo Chinaglia, são legítimas. No entanto, o que deve ser avaliado é qual das duas é melhor para o novo projeto político iniciado em 2003 – amplamente ratificado pela ampla maioria dos brasileiros em outubro passado – e para a própria instituição.
É oportuno observar que os dois postulantes pertencem à base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas parece tratar-se de adversários ou até de inimigos, tais os métodos utilizados pelo candidato petista. Prometer cargos no Governo e liberação de emendas do Orçamento aos deputados em troca do voto é uma prática condenável, e, com certeza, não conta com a anuência do presidente Lula, até porque este já manifestou a diversos interlocutores a sua preferência pela permanência de Aldo na presidência da Câmara. Lula chegou mesmo a manifestar ao próprio Rebelo, no ano passado, que desejava a sua recondução ao cargo, bem como a de Renan Calheiros no Senado.
O hegemonismo, numa coalizão formada por dez partidos, não é um bom conselheiro, até porque o PT não tem maioria nas duas Casas do Congresso. Além disso, Rebelo tem sido de uma fidelidade canina ao presidente Lula, quer como líder do Governo, quer como ministro e principalmente como presidente da Câmara. Mesmo assim o atual presidente da Câmara tem tratado a oposição com correção, daí merecer o respeito de todos. Entre as diferenças que as duas candidaturas encerram, a do comunista se destaca por ser uma garantia de que não haverá o acirramento entre situação e oposição que certamente ocorrerá em caso de vitória de Chinaglia.
Os petistas sabem da importância do PCdoB e do PSB para o Governo e que os dois são tradicionais e históricos aliados seus. No entanto a sua prática pode forçá-los ao distanciamento, especialmente se já estiver levando conta o projeto para 2010. O momento clama pela unidade e urge que isto seja compreendido por todos, sob pena de pôr em risco o projeto de ampliação das mudanças iniciadas há quatro anos e que tanto o País exige. A declaração do ex-ministro e deputado federal eleito com a maior votação proporcional do País Ciro Gomes segundo a qual “o que estão fazendo com o Aldo não se faz nem ao pior inimigo”, é muito sintomática e merece uma boa reflexão.
Não precisa ser nenhum cientista político para concluir que, apesar de legítima, a candidatura de Chinaglia visa à hegemonia do PT, e que essa hegemonia certamente o afastará de seus fiéis e tradicionais aliados. Isto é tudo o que a direita mais deseja e espera., pois já está de olho nas eleições municipais de 2008 e projetando um salto para 2010 quando sonha em retornar ao Poder Central. Portanto, é bom caminhar devagar porque o santo é de barro, e todo o cuidado é pouco para a manutenção da aliança que é fundamental para o sucesso do projeto que se quer ampliar.
Dos dois principais partidos de oposição, o PFL já fechou o apoio à candidatura de Aldo Rebelo, e o PSDB se reúne no próximo sábado para tentar reverter a posição assumida pelo deputado Jutahy Magalhães Júnior em favor da candidatura de Chinaglia em troca do apoio petista na Bahia à candidatura tucana à presidência da Assembléia Legislativa. Não é pelos lindos olhos de Aldo Rabelo e pela defesa de uma sociedade mais justa e igualitária por ele defendida que os principais dirigentes pefelistas e tucanos querem a sua permanência na presidência da Câmara. Até porque não é isto que eles querem. Mas por entenderem que esta é a melhor opção para todos e para a própria instituição.
Nesta altura do campeonato não se espera que nenhum dos dois desista da postulação. Mas a democracia espera que o jogo seja limpo e que a coalizão seja preservada e fortalecida para o bem do Brasil.
Messias Pontes é jornalista