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Para Rabelo, PCdoB vive nova fase de maior afirmação no cenário nacional

Por Priscila Lobregatte


Durante primeira aula do 5º Encontro Nacional de Professores da Escola Nacional, que acontece até o dia 3 de fevereiro, em Guarulhos, o presidente do Partido Comunista do Brasil, Renato Rabelo, salientou que o momento

Preparar quadros e militância para um período de maior afirmação do PCdoB no cenário político nacional. Esta foi a ênfase da aula inaugural do 5º Encontro de Professores da Escola Nacional, ministrada por Renato Rabelo, presidente do partido. Durante toda a manhã desta segunda-feira, 29, mais de cem pessoas participaram da aula. Até o momento, a organização do curso contabiliza 11 participantes do Norte, 15 do Nordeste, 10 do Centro-Oeste, sete do Sul e 32 do Sudeste, além de 30 dirigentes de São Paulo que participarão da primeira fase do curso.




Antes de chegar ao panorama atual de política brasileira, Renato Rabelo falou sobre a luta contra o neoliberalismo e pelo socialismo num período de acumulação de forças. Remontando às experiências socialistas anteriores, o dirigente lembrou que “toda a tentativa histórica do século passado esgotou um ciclo revolucionário importante. Mas agora, estamos diante de uma outra luta”. Ele salientou que neste momento a teoria, no campo subjetivo, é essencial para se construir, no campo objetivo, a resistência ao capitalismo.




Trazendo a luta pelo socialismo para a atual configuração da América Latina, continente aonde a esquerda vem ganhando força desde os anos 90, especialmente após a eleição de Hugo Chávez para a presidência da Venezuela, Rabelo destacou que também no Brasil a esquerda vive um momento de maior fôlego. Diante da impossibilidade, pela configuração das forças e pelo contexto histórico, de uma tomada de poder pela luta revolucionária, Rabelo disse que o país passou a viver um novo ciclo com a chegada à Presidência, por via eleitoral, de Luiz Inácio Lula da Silva. “Os processos [da chegada ao poder por setores da esquerda] alcançaram o marco das instituições vigentes por meio de processos eleitorais”. Rabelo constatou que a Venezuela encontra-se num período mais avançado dessa luta, mas ressalvou que“é ainda uma experiência inicial”, com muitos desafios a serem vencidos, entre eles a dependência econômica com relação ao petróleo. “A América Latina é, hoje, a ponta mais avançada da luta antiimperialista e pelo socialismo”, disse Rabelo.




Desenvolvimento em um novo patamar




No que diz respeito ao Brasil, Renato Rabelo explicou que hoje um dos grandes desafios do país é a busca por um projeto nacional de desenvolvimento dentro de novos moldes que levem em conta o atual estágio do neoliberalismo, de globalização e maior concentração de poder nas mãos de uma superpotência. Para ele, embora tenha sido de grande importância, os moldes seguidos pelo chamado desenvolvimento varguista não são mais adequados à nova realidade vigente.




E, para que se atinja esse novo projeto, é preciso uma ampla coalizão de governo que possibilite a formação de um quadro político favorável ao trabalho do governo. Por isso, lembrou Renato, o PCdoB vem trabalhando na base governista desde a primeira eleição de Lula. No entanto, o presidente do partido chamou a atenção dos participantes para as outras esferas de participação comunista. “Atuamos no governo, mas também fora dele com autonomia e estamos também inseridos nos movimentos sociais”, disse.




Para que a atuação do PCdoB seja amplo e diversificado, é preciso , segundo a apresentação do presidente do partido, o trabalho dos comunistas em três frentes: na esfera das instituições, atuação parlamentar, apoio e participação em governos, “inclusive o governo nacional, impulsionando-o a transitar para uma alternativa democrática, patriótica e progressistas”. O segundo ponto diz respeito à participação ativa na luta de idéias, “reforçando tendências revolucionárias e progressistas”, tendo como objetivo a construção de fundamentos que dêem as bases a um projeto que substitua o neoliberalismo. Por último, trabalhar pela intervenção permanente na “organização e mobilização do movimento social, sobretudo das camadas trabalhadoras” para que as mesmas se constituam na principal força transformadora da sociedade. É a partir da articulação dessas três frentes que será possível construir uma vanguarda que conduza o povo ao processo transformador.




Os desafios do segundo mandato




Conforme sinalizou o presidente do PCdoB, “a vitória de Lula nas últimas eleições teve um sentido estratégico inclusive para a América Latina, devido ao peso que o Brasil tem no continente”. “A vitória se deu após um período muito tormentoso na vida política”, disse, lembrando da campanha de desgaste que a direita e boa parte da grande mídia promoveu contra o governo federal. “Somente durante o mandato de Aldo Rebelo à frente da Câmara, foram encaminhados 20 pedidos de impeachment”, enfatizou.




Para ele, foi importante a ida da disputa para o segundo turno porque possibilitou um debate mais amplo, proporcionando uma derrota à direita nos campos eleitoral, político e ideológico. “Depois do segundo turno, surgiu um Brasil mais democrático e a direita foi obrigada a engolir isso”, disse, salientando que o resultado foi possível graças à “elevação da consciência popular”.




Quanto ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Renato declarou que “não se trata de uma declaração de intenções”, como acontecera com a Carta ao Povo Brasileiro,“mas de um plano concreto para a concretização de um processo de desenvolvimento nacional, tendo o Estado como indutor dessas mudanças”. No entanto, disse, é preciso lembrar que o PAC está refém da política econômica vigente. “O Banco Central jogou um balde de água fria”, lamentou, referindo-se à queda de apenas 0,25% na taxa de juros logo após o anúncio do programa.




Ainda conforme o dirigente, desde o primeiro mandato há uma espécie de “acordo tácito” beneficiando os grandes grupos financeiros. “Portanto, o problema é mais do que econômico. É político. Não basta tirar o Henrique Meirelles porque a lógica [do BC] é ditada por essa gente, ligada ao capital financeiro”, argumentou. E completou: “É preciso um enfrentamento muito forte a essa situação. Estamos lutando contra setores muito poderosos.




Com relação à sucessão à presidência da Câmara dos Deputados, Renato lamentou a posição do PT tendo em vista a necessidade de se fortalecer a base governista. “A decisão [de lançar Arlindo Chinaglia] foi unilateral e abrupta. Não houve consulta aos aliados. Neste sentido, o PT desconsiderou a formação do eixo de esquerda que sustente o governo”. Segundo o dirigente, o Partido dos Trabalhadores “transformou em letra morta a posição do presidente Lula, favorável a Aldo”. Para ele, a posição da legenda petista foi “hegemonista”.




Contudo, Renato Rabelo disse que a disputa pode resultar numa nova conformação de forças, não de oposição ao PT, mas de maior alinhamento entre siglas como PCdoB, PSB, PDT e PV, entre outras.




Finalizando sua apresentação, o presidente do PCdoB reforçou que um dos principais focos de atuação dos comunistas deve ser, de fato, uma maior inserção nos movimentos sociais, alcançando inclusive as camadas mais populares do país. “O nosso objetivo estratégico é o socialismo. E, buscando esse objetivo, o partido precisa ter um papel decisivo nos grandes embates políticos. O potencial é grande e as possibilidades são imensas. Por isso, a formação de quadros é fundamental”.




O curso seguiu pela tarde, com a apresentação de Luís Fernandes, do Ministério de Ciência e Tecnologia, sobre o papel da integração regional no desenvolvimento nacional. As aulas continuam nesta terça-feira, com Walter Sorrentino, secretário nacional de Organização do PCdoB, sobre “O partido para a época de acumulação de forças”. No final do dia, serão ministradas as palestras de Ana Rocha – “Marxismo e concepções sobre a questão da mulher” – e Lincoln Secco e Augusto Buonicore – “Estado, partido e hegemonia”.




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