Messias Pontes – O ministério e o sucesso da coalizão
Passado o carnaval, – no Brasil tudo começa depois do carnaval – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se concentra agora na formulação do ministério para o seu segundo governo.
Publicado 22/02/2007 17:48 | Editado 04/03/2020 16:37
A direita e os jornalistas amestrados vêm cobrando essa definição não com espírito nobre, mas para bagunçar o coreto, não havendo, portanto, nenhuma preocupação com o sucesso do Governo. É muito comum se ouvir da oposição a afirmativa de que é inadmissível o presidente Lula, há mais de um mês do início do seu segundo mandato, não ter ainda definido o novo ministério. Pura balela, pois nenhum ministério está vago e, se quiser, o Presidente pode manter o atual, embora não deva.
Já as forças que formam a coalizão – 11 partidos – estão querendo essa definição com o intuito de participar do Governo, dando a sua colaboração para o sucesso deste segundo mandato. No entanto, o apetite do PT por cargos no primeiro escalão tem preocupado os partidos que formam a coalizão e o próprio presidente Lula, que já chegou a declarar que o seu partido pode até querer, mas é ele quem decide. A insensatez da disputa pela presidência da Câmara, que já deixou seqüelas, e a exigência por mais espaço no Governo por parte dos petistas, pode comprometer a coalizão tão desejada por todos que estão empenhados com o sucesso governamental.
É imprescindível que os petistas entendam que não têm maioria no Congresso Nacional e que, para garantir a governabilidade, ônus e bonos têm de ser divididos eqüitativamente com todos os aliados. Como bem enfatizou o deputado Ciro Gomes (PSB), “se a base da coalizão for o fisiologismo, a miudeza, não vai funcionar”. O PT, apesar de não ser majoritário no Congresso, já tem o primeiro e o terceiro postos mais importantes – as presidências da República e da Câmara dos Deputados -, a maioria dos ministérios e principalmente dos cargos de segundo e terceiro escalões. Em alguns estados, tem praticamente a totalidade dos cargos federais.
O PMDB, por sua vez, detentor da maior bancada no Congresso e que agora está unido no apoio ao Governo, também quer aumentar o seu espaço. O que sobrará, então, para os nove outros partidos da coalizão? Mais uma vez valho-me de uma feliz declaração de Ciro Gomes para manifestar minha preocupação, como cidadão que quer o êxito do projeto aprovado por mais de 58 milhões de eleitores brasileiros: “Em 2010 não existirá mais o Lula como candidato nem vai dar pra fazer outro até lá, mas Lula será protagonista. O sucesso do nosso projeto depende do êxito do Governo, e a coalizão é essencial para esse êxito”.
A manutenção do Poder Central nas mãos das forças progressistas, a partir de 2011, vai depender, e muito, do sucesso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com as devidas alterações. Aliás, o que deve crescer é o desenvolvimento, pois este pressupõe crescimento com distribuição de renda, com valorização do trabalho, para diminuir o fosso social que divide a Nação e as regiões. E isto só será possível com o fortalecimento da coalizão, até para forçar a ampliação e a democratização do Conselho Político Monetária (COPOM) com a efetiva participação dos trabalhadores. É inadmissível o COPOM continuar com o conservadorismo que vem mantendo até agora, favorecendo o capital especulativo.
Uma redução do superávit de pelos menos 0,5%, ou um pouco mais, garantirá investimentos em infra-estrutura tão necessários ao desenvolvimento do País, com distribuição de renda e valorização do trabalho. O país não pode ficar refém da atual diretoria do Banco Central. A insensibilidade do Sr. Henrique Meireles e dos seus liderados é altamente nociva aos interesses do nosso povo. Não se pode admitir que os trabalhadores, que constroem a riqueza deste País, fiquem de fora das decisões da política econômica. O COPOM precisa, repetimos, ser ampliado e democratizado.
Outro dado que consideramos necessário observar é que 2010 passa necessariamente por 2008, principalmente nas capitais e grandes cidades. O PT tem a obrigação de contribuir para cicatrizar as feridas abertas por ele com a insensata disputa pela presidência da Câmara dos Deputados tratando os tradicionais e fiéis aliados como inimigos. As feridas abertas com essa disputa dificilmente dicatrizarão no curto prazo. O Poder Central, para o bem do Brasil, precisa ficar com as forças democráticas e populares. A direita aposta todas as suas fichas no insucesso do segundo governo Lula.
É mais que oportuno recordar o que disse o presidente Lula no final do seu discurso ao assumir o seu segundo mandato, em 1º de janeiro último: “Quero pedir-lhes, apenas, que olhemos mais para o que nos une do que para o que nos separa. Que concentremos o debate nos grandes desafios colocados para o nosso País e para o mundo. Que estejamos à altura do que necessita e deseja o nosso povo. Só assim poderemos estar a serviço deste País que tanto amamos. Eu, de minha parte, governarei para todos, sem olhar para cor, credo, opção ideológica ou partidária. Mais que nunca, sou um homem de uma só causa que se chama Brasil”.
Que os petistas pensem nisso!