Rio São Francisco – Recrudesce a batalha
Editorial do jornal O POVO
Ao que parece, nada demove os opositores da obra, por mais que se utilizem argumentos científicos demonstrando a inconsistência de suas proposições. Assim, o que valerá daqui para frente é a capacidade
Publicado 22/02/2007 17:41 | Editado 04/03/2020 16:37
As pressões contra a interligação da bacia do Rio São Francisco com as bacias dos rios do Nordeste Setentrional voltam à ordem do dia, à medida que se ultimam os preparativos para o reinício das obras. De um lado, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza entrou no último dia 12 com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão da licença ambiental para a obra. De outro, o bispo de Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, que em 2005 fez uma greve de fome de dez dias contra o projeto, ameaça com nova investida.
Ao que parece, nada demove os opositores da obra, por mais que se utilizem argumentos científicos demonstrando a inconsistência de suas proposições. Assim, o que valerá daqui para frente é a capacidade de mobilização dos habitantes do Nordeste Setentrional e de suas lideranças para resistir a esse novo ataque. Afinal de contas, trata-se do destino de uma população de cerca de 12 milhões de habitantes, com um dos índices de desenvolvimento humano mais baixos de todo o planeta, e de uma área que soma 900 mil quilômetros quadrados, cujo solo cristalino não retém as águas das chuvas e cujos rios são, em sua maioria, temporários. Assim, a irregularidade pluviométrica condena essas pessoas à aflição cíclica das estiagens e ao desmantelamento de suas condições de vida, após cada seca.
O custo estimado da obra – cerca de R$ 4,5 bilhões – é mais ou menos o que se gasta a fundo perdido com três secas na região. Só que desta vez o dinheiro será empregado em obras estruturantes. O custo financeiro é equivalente ao de algumas hidrelétricas e gasodutos que o Brasil conhece. Tudo isso, sem afetar o equilíbrio ecológico do rio São Francisco e sem prejuízos para os estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas, como demonstram os dados técnicos.
A justa cobrança em relação à revitalização do rio São Francisco foi contemplada no projeto e hoje esse trabalho está em pleno andamento. Então, por que tanta resistência?
O principal argumento – de que já existe água suficiente armazenada nos açudes da região – não tem consistência, visto que o aproveitamento desse estoque é muito limitado por conta da insegurança hídrica. Ou seja, o receio de uma estiagem imprevisível impede o largo uso da água. Assim, só a garantia de um fluxo permanente de água para esses açudes – proporcionado pela transposição – possibilitará que estes cumpram finalmente a função para qual foram construídos. Atualmente, isso só é possível muito limitadamente.
Onde não for possível atender às populações com esse recurso, continuar-se-á o projeto de construção de cisternas de placa e de poços artesianos.
Está faltando boa vontade da parte de certos oponentes. A intransigência assume ares de sectarismo. E quando falta a racionalidade e a compaixão a coisa se transforma num jogo bruto. Ou qual outro nome para a falta de sensibilidade em relação à população tão sofrida, que há mais de um século só vem recebendo promessas? Só quem viveu as tribulações de uma seca pode ter a noção do que significa ter esse fluxo permanente de água abastecendo os açudes estratégicos da região.
O fato é que está faltando garra nas lideranças mobilizadoras da sociedade civil, no Nordeste Setentrional. É preciso mais empenho e espírito de luta, pois o peso da inércia é muito grande, sobretudo quando há interesses poderosos inconformados com a possibilidade de um Nordeste livre de uma das principais peias que impedem seu desenvolvimento.
É hora, pois, de deixar o comodismo de lado e ir à luta, pois dificilmente teremos outra oportunidade histórica de contar com um governo disposto a realizar um projeto dessa magnitude, arrostando ignorância, sectarismo e incompreensão. A História demonstra que as grandes conquistas sempre foram resultantes de muito esforço e tenacidade. Não será diferente com esta.