Chico Lopes -Um compromisso brasileiro
Depois de uma espera que vem desde os tempos do Império, uma ação de profunda transformação social está para começar em nosso País. A integração da bacia do Rio São Francisco às bacias do Nordeste setentrional está finalmente pronta para sair do papel.
Publicado 27/02/2007 10:17 | Editado 04/03/2020 16:37
Os editais do projeto coordenado e financiado pelo Governo Federal prevêem a divisão das obras em 14 lotes, incluindo a construção dos eixos de integração leste e norte, a integração de bacias receptoras, as necessárias ações ambientais e de fiscalização. A iniciativa deverá proporcionar segurança hídrica – água para beber, produzir e viver com dignidade – a pelo menos 12 milhões de pessoas, nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Para que se chegasse a esse estágio de expectativa pelo efetivo início das obras, inúmeras medidas preparatórias, análises, pesquisas e avaliações de impacto foram realizadas durante os quatro anos do primeiro governo Lula. Ao longo desse tempo, audiências públicas, debates e uma vasta cobertura pela imprensa garantiram que a idéia passasse por discussão nos mais variados setores sociais, fazendo valer o direito de expressão daqueles que se posicionaram contra o projeto, mas deixando clara a aprovação da maior parte da sociedade à realização dessa obra, que tem potencial para mudar decisivamente o cenário de boa parte do semi-árido nordestino. Tudo isso utilizando não mais do que 26 metros cúbicos por segundo da vazão do São Francisco, o equivalente a 1,4% do total.
Com tudo isso, não deixa de ser surpreendente que, tão perto do início dos trabalhos, o procurador-geral da República, o cearense Antônio Fernando de Souza, venha se somar aos que já tentaram, de diversas formas, barrar o projeto. Não custa lembrar que várias tentativas semelhantes de impedir a integração do São Francisco por medidas judiciais foram frustradas por sucessivas decisões da Justiça a favor da iniciativa. Não podemos negar ao nobre procurador o direito de utilizar os instrumentos legais que lhe cabem para defender seu ponto de vista. Mas lamentamos que, ironicamente, venha de um nordestino aquela que pode ser a última tentativa de adiar ainda mais essa obra já aguardada há séculos por nossa região.
Preferimos, porém, acreditar na consistência do trabalho de um outro cearense, o ministro Pedro Britto, à frente do Ministério da Integração Nacional, certamente tomando todas as devidas medidas para impedir que o povo nordestino tenha de aguardar ainda mais. Assim como, enquanto muitos destacam ações de religiosos contrários ao projeto, preferimos ressaltar o apoio declarado à integração por expressivos representantes da Igreja no Ceará. Como bem mostrou O POVO, na última quinta-feira, Dom Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, defende o projeto do Governo Federal, enfatizando a importância fundamental da obra para o agronegócio e para os pequenos produtores.
Neste momento, é importante que cada cidadão e cada setor da sociedade organizada reforce publicamente seu apoio à integração do São Francisco – mais do que uma obra para levar água a quem precisa, um inadiável compromisso de nosso País consigo mesmo.
Chico Lopes é deputado federal pelo PCdoB