Com apoio do PT, PSDB deve levar presidência da Assembléia de SP

Acordo entre PSDB e PT foi selado após reunião entre o candidato Vaz de Lima (PSDB) e a bancada do PT. Autonomia do parlamento paulista pós-Alckmin e distribuição de cargos na Mesa Diretora foram algumas das pautas do encontro. O PSOL, no entanto, acusa o

Após oficializar o apoio do PT na disputa pela presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo (ALESP), o PSDB deve evitar surpresas negativas para o Palácio dos Bandeirantes na eleição do dia 15 de março, data de início da nova legislatura. O acordo foi selado após uma reunião entre o favorito, Vaz de Lima (PSDB), e a bancada petista. Os dois partidos divulgaram uma carta conjunta que anunciou o compromisso na tarde de quarta-feira (28). Lima disputará o cargo com o deputado Antônio Salim Curiati (PP).



O PT era considerado o ''fiel da balança'' na disputa interna da Assembléia. Os petistas compõem a segunda maior bancada da nova legislatura, com 20 deputados. O PSDB possui o maior número de cadeiras, com 24 eleitos. Além do PT, o tucano tem apoio do PTB, do PPS, do PV e do PFL. Para conquistar a presidência, o vencedor precisa ter o voto de 48 dos 94 parlamentares. O amplo leque de alianças visa evitar imprevistos políticos como o da última eleição para a Mesa Diretora, quando o deputado Rodrigo Garcia (PFL), à revelia do então governador Geraldo Alckmin (PSDB), foi conduzido ao posto também com o suporte dos votos petistas.



Conversas informais



“(O acordo) é o final de um longo processo de conversas informais”, relatou Vaz de Lima à Carta Maior. “O PT entregou um documento, que eles chamaram de Carta Compromisso. Tive um tempo de estudar, e conversei com toda a bancada. Foi um processo denso, no qual percebo que o PT tem desejos que coincidem muito com as minhas preocupações no sentido de dar um avanço na Assembléia. No conjunto da obra, temos mais pontos em comum do que conflitos”, garante.



Na Carta, o PT reivindica o fortalecimento e a independência do Legislativo diante do Executivo, a continuidade da realização de audiências públicas para discutir questões como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento do Estado e a aplicação do critério da proporcionalidade na distribuição de cargos na Mesa Diretora e comissões permanentes.



Na reunião com Vaz de Lima, os deputados do PT também relataram as atuais dificuldades encontradas na Casa para obter pedidos de informação e convocar autoridades públicas. Além disso, houve críticas sobre o crescente número de vetos a projetos dos parlamentares. “Muitos dos projetos aprovados acabam sendo efetivados em finais de ano, dentro de um grande acordo. Já começamos a falar da necessidade interna da Casa de olhar melhor estes projetos com uma equipe técnica”, promete Lima.



Postos do PT



Pelo critério da proporcionalidade, a primeira e a quarta secretarias da Casa seriam destinadas ao PT, caso a vitória governista se confirme. No entanto, a definição do último posto ainda não foi confirmada pelo tucano. Uma eventual ausência petista na quarta secretaria poderia ser compensada politicamente com uma maior presença nas comissões permanentes da Casa.



Vaz de Lima atestou ainda que não apresentou propostas de gestão na reunião com a bancada de oposição, e que preferiu trabalhar em cima das reivindicações do PT. Questionado se a adesão petista na Assembléia seguiria um suposto acordo firmado na eleição na Câmara dos Deputados, o deputado preferiu classificar a atitude como um “gesto de boa vontade” recíproco. “Ao que me consta, não houve o acordo. Pode ter sido um gesto de boa vontade de parte a parte, já que nós defendemos o critério da proporcionalidade. Defendemos isso em Brasília e aqui em São Paulo”, diz.



Enio Tatto (PT), líder da bancada de seu partido, ressalta que o apoio não significa alinhamento político com o governo e assegura que o PT vai votar unido. “Não lançamos candidatura própria porque não dá para ficar se digladiando com apenas 20 deputados e mais dois do PSOL, que provavelmente irão ser de oposição. Não temos correlação de forças”, explica Tatto. O deputado garantiu ainda que a proposta de instalação da CPI do Metrô na próxima legislatura será mantida pelo partido.



De acordo com Tatto, o PT construirá uma oposição “propositiva, mas contundente”. “Não vai ter recuo. Inclusive já marcamos oposição ao governo Serra na votação do Orçamento. Não é verdade que houve um acordo na eleição da Câmara Federal. Se você for averiguar, foram somente 8 ou 10 deputados do PSDB que votaram no Arlindo (Chinaglia) no segundo turno. A maioria votou no Aldo Rebelo. Na ocasião, o Arlindo me ligou desmentindo essa questão e disse que em nenhum momento se tratou disso”, esclarece Tatto.



Anticandidatura



O PSOL, que terá uma bancada formada pelos deputados eleitos Carlos Giannazi e Raul Marcelo, criticou a aproximação política entre PT e PSDB. Para Giannazi, “(o acordo) é péssimo. Mostra que não haverá oposição séria e consistente ao governo Serra, já que o PT, que é a maior bancada de oposição, dará apoio ao Vaz de Lima”, lamenta. “Não vamos ter enfrentamento. É um acordo feito por cima. É parte de um outro acordo em plano federal. É como se PT e PSDB fossem dois partidos irmãos”, diz.


 


Com o tucano Vaz de Lima “virtualmente” eleito, o PSOL anunciou que irá lançar uma “anticandidatura'' na Assembléia. “Vou convidar o Raul Marcelo para a anticandidatura. Claro que não vamos ganhar, mas o objetivo é fazer um grande debate na sociedade, denunciar as negociatas e mostrar como o Executivo engoliu o Legislativo aqui em São Paulo”, afirma Giannazi.