O PT junto com o PSDB em Vitória.

A imprensa capixaba deu para especular que o governador Paulo Hartung(PMDB) estaria com a pretensão de unir o PT com o PSDB em vários municípios nas eleições do ano que vem. Pequenas notas foram publicadas em colunas políticas, nas quais passou-se a tenta

Namy Chequer*


 


A imprensa capixaba deu para especular que o governador Paulo Hartung (PMDB) estaria com a pretensão de unir o PT com o PSDB em vários municípios nas eleições do ano que vem. Pequenas notas foram publicadas em colunas políticas, nas quais passou-se a tentar ouvir, em seguida, a opinião de lideranças de ambas as agremiações sobre se a idéia seria ou não viável. Sabendo que o objetivo central do PT em 2008 no Espírito Santo é a manutenção do controle da prefeitura da Capital, façamos um exercício para saber se, neste caso, suposta pretensão do governador é razoável.


 


De pronto vamos considerar dois elementos decisivos: primeiro, os diretórios dos dois partidos em Vitória. O do PT é presidido pelo vereador Alexandre Passos, figura ligadíssima ao prefeito João Coser, que o banca na presidência da Câmara Municipal pela segunda vez seguida. O segundo é presidido pelo vereador José Carlos Lyrio Rocha, que por sua vez é elemento de estreita ligação com a administração petista – a ponto de ter ousado votar a favor do rumoroso aumento do IPTU, mesmo tendo como base eleitoral as regiões mais atingidas pela majoração do imposto. A outra consideração diz respeito ao comportamento da própria bancada tucana na câmara que, além de Lyrio, conta com Toninho Loureiro, destacado quadro de sustentação da administração Coser.


 


Portanto, se for levado em apreço o vínculo amistoso entre os dois diretórios e as duas bancadas na Câmara Municipal o PSDB de Vitória está inapelavelmente atrelado ao projeto de reeleição de Coser. É claro que as duas maiores lideranças do PSDB da Capital mantêm regulamentar distância do prefeito. Só que Luiz Paulo e César Colnago (PSDB), pelas funções que aceitaram exercer atualmente, um deputado federal e o outro secretário estadual, não possuem razões prementes para antecipar uma forra contra o prefeito petista que ainda outro dia se batia pela reeleição de Hartung e a eleição de Casagrande para o Senado tanto quanto eles próprios. Na verdade, nada impediria. Mas, estariam eles precisando adiantar o relógio de suas respectivas carreiras políticas, com o risco até de colisão entre elas?


 


Além do mais, os dois teriam que entrar no jogo saldando a inadimplência com dezenas de candidatos e mesmo pré-candidatos a vereador do PSDB de 2004 que não conseguiram um desempenho que correspondesse à força que o partido tem na cidade que administrou durante 12 anos. Aquela chapa que montaram mais parecia um funil de chumbo com peso de ouro. Por isto mesmo não estariam tão legitimados assim para tratar das articulações de 2008, tendo em vista a pronunciada tendência dos dois para exclusivisar os interesses da candidatura majoritária, relegando a um plano de negligência a disputa proporcional. Aliás, um mal do qual padece todos os candidatos ao executivo.


 


Não é demais lembrar também que Luiz Paulo, não obstante seu severo discurso antipetista, já foi um dia capaz de render-se às conveniências políticas para favorecer o PT, exatamente quando isto foi tão necessário aos petistas. Fez ele parte do pequeno grupo de tucanos que garantiu a eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara Federal. E aquela foi a sua primeira ação como deputado federal, mandato assegurado pelos quase 40 mil votos oposicionistas de Vitória. Sendo assim, por que jogar no colo do governador uma especulação que não é assim tão mirabolante quanto parece à primeira vista? Qual é, afinal, a distância que separa de fato o PT do PSBD na capital capixaba? A expectativa de um enfrentamento entre o PSDB e o PT no próximo ano mais parece a da famosa batalha de Itararé, em 1930, que jamais aconteceu.


 


A oposição a Coser (PT) passará por outro caminho, embora haja quem insista em nacionalizar a disputa, brandindo o quadro político anterior a 2006, eleitoralmente ultrapassado. 2008 não está no passado, será o primeiro movimento no tabuleiro da batalha que se arma para 2010, quando ocorrerá o primeiro pleito da era pós Lula. PSDB e PT têm sido os principais protagonistas na disputa pelo poder nacional e só a eles interessa que as forças decantem segundo sua lógica.


 


Só que o tempo não pára e novos atores estão aí ansiosos por papeis mais importantes na cena política. O que acontece e poderá vir a acontecer em Vitória deve ser acompanhado em todo Estado. A democracia que se constrói no Brasil comporta espaços bem avantajados do que aquele que, num determinado contexto da vida política brasileira, conseguiu socar a formidável massa de forças vivas que ficaram polarizadas entre tucanos e petistas, cujos governos o povo já experimentou democrática e devidamente. Um novo tempo é o que se quer.


 


*Namy Chequer é Jornalista.