Senegal terá tecnologia do biodiesel cearense

O presidente do Senegal, Abdulaye Wade, visitou ontem a empresa cearense Tecbio. Ele veio conhecer as unidades experimentais de biodiesel e formalizar convênio de prestação de serviços entre o Estado e o país africano

De Brasília para Fortaleza. Depois do encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quarta-feira passada, o presidente do Senegal desembarcou, ontem, na capital cearense. Abdulaye Wade esteve no País para assinar protocolo referente ao acordo técnico Brasil-Senegal – que dará suporte nacional para o desenvolvimento do programa de biodiesel no país africano. No Ceará, o presidente do Senegal visitou a Tecbio – Tecnologias Bioenergéticas, uma das 17 empresas incubadas no Padetec/Nutec (campus do Pici/Universidade Federal do Ceará). A Tecbio, que possui laboratório de pesquisa e desenvolvimento de biodiesel a partir da mamona, vai prestar serviços e fornecer equipamentos ao governo senegalês com a assinatura de um convênio de cooperação técnica.


 


Para explicar aos africanos de língua francesa a importância do biocombustível – menos poluente que o combustível derivado do petróleo e uma energia renovável, o diretor-presidente da Tecbio, Expedito Parente, usou os números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis: em 2006, o Brasil consumiu 36,7 bilhões de litros de diesel (o Ceará, 540 milhões; 10% do total do consumo no Nordeste). Nas contas do engenheiro Expedito Parente, pai do biodiesel cearense, ''1% de substituição de óleo diesel por biodiesel, no consumo brasileiro, geraria 45 mil empregos no campo e 180 mil na cidade''. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel propõe misturar 2% do combustível de origem vegetal ao diesel advindo do petróleo. Até 2010, ressaltou o governador Cid Gomes durante a recepção ao presidente estrangeiro, esse percentual deve subir para 5%.


 


Mas o presidente Abdulaye Wade mostrou-se bem mais interessado em outros números. Em seu francês impaciente, quis saber sobre o ''lado prático'' da cooperação Brasil-Senegal. Perguntou quanto lhe custaria a importação do biodiesel local e quando seu próprio país se tornaria produtor. O Senegal, pioneiro no mundo a instalar um ministério de Energias Renováveis, destacou Wade, ''tem sofrido com o aumento do petróleo''. Daí a urgência em usar o biodiesel ''de forma imediata''.


 


O também diretor da Tecbio, José Neiva Santos Júnior, que acompanha a comitiva senegalesa desde Brasília, respondeu que ''entre cinco, seis meses'' o Ceará já pode fornecer uma unidade de produção semelhante a existente no Padetec/Nutec – que produz 10 litros por hora. Abdulaye Wade insistiu em negociar o preço da exportação do biodiesel cearense ali, em reunião a portas abertas, o que provocou certo constrangimento no governador Cid Gomes e nos diretores da Tecbio e o abreviamento da visita ao laboratório da empresa. Os visitantes africanos saíram sem ver o trator, abastecido com o combustível alternativo, fazer sua exibição.


 


O convênio de cooperação técnica, explicou Neiva Júnior, é o instrumento inicial para gerar planos de trabalho e orçamentos. ''Não estão definidos volumes de importação, preços'', sublinhou. O documento prevê tanto a exportação de biodiesel produzido no Estado para o Senegal quando a implementação de uma usina piloto naquele país. A Tecbio vai assessorar o processo de implantação do programa de biodiesel senegalês. ''Vamos exportar o biodiesel, o que já é bom para o Estado, e vamos exportar tecnologia daqui'', ressaltou Neiva Júnior. ''No futuro, a idéia será vender outras usinas pequenas e construir uma grande usina, que produza cem mil litros por dia'', completou. Nos planos do governo do Estado, o Ceará deve ampliar sua área de produção de mamona para 30 mil hectares (são cerca de 12 mil, atualmente) ainda este ano. O que já dá para abastecer o mercado local como propõe o Programa Nacional do Biodiesel. ''Mas nossa meta é muito mais ambiciosa'', intercalou Cid Gomes, objetivando chegar a ''mais de cem mil hectares'' em médio prazo. Além da mamona, investimento também no pinhão manso.


 


 


 


Fonte: Jornal O Povo